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A vez da diplomacia

 

CADA VEZ mais o Brasil está a exigir de nossa diplomacia. Ela sempre desempenhou suas tarefas com extraordinária competência. A ela devemos uma parcela da unidade nacional, ao construir fronteiras pacíficas com dez países, como o fez Rio Branco.


Hoje nossos problemas são maiores. É que o Brasil não é mais uma nação marginal. Carregamos hipotecas de nossos desníveis internos e a dependência de nossas amarras externas. Temos as fraquezas de um país ainda com uma cultura terceiro-mundista e as responsabilidades de potência emergente. Isso se reflete sobretudo no relacionamento com nossos vizinhos, que passam a ver o Brasil sob este último ângulo.


Acho lúcida a entrevista do vice-chanceler boliviano, quando afirma que "o Brasil deve pagar por sua liderança". É o que sempre pensei. Mas isso não pode importar em abrir mão da defesa dos seus interesses. O futuro não perdoa o país que abdica do seu destino. Não devemos ser hegemônicos e não gostamos dessa palavra. Mas é um certo exagero nos culpar por problemas internos de outros países.


Devemos dar à Bolívia um tratamento especial e cuidadoso. Ela é uma peça fundamental na estabilidade do continente. Qualquer desestabilização ali atinge todos os países da América do Sul. Não foi por achar a Bolívia bonita que Che Guevara a escolheu para a revolução continental a que ele aspirava. Ao Brasil interessa uma Bolívia estável, próspera e com viabilidade econômica. Sempre a apoiamos.


Nós asseguramos, com posição firme, a preservação da sua unidade durante a Guerra do Chaco. E foi através de mediação pessoal minha junto ao presidente Andrés Rodríguez que o governo paraguaio decidiu abrir à Bolívia a livre navegação no rio Paraguai, vedada aos bolivianos desde aquela guerra. Recordo-me, quando era presidente da República, de uma longa conversa que tive com o presidente Reagan sobre a Bolívia, como ajudá-la e dar-lhe prioridade em nossas relações. O Brasil, dizia eu então, assumirá suas responsabilidades e sempre a apoiará. Com o presidente Paz Estenssoro, esse grande patriota boliviano, reafirmei sempre esse ponto de vista.


Cabe ao chanceler Celso Amorim navegar no estreito corredor desta hora de transição do status internacional do Brasil, o que ele tem feito muito bem. O Brasil tem deveres com a Bolívia. Ser líder é ter consciência de cooperação e irmandade. A geografia nos colocou juntos. Não para ficarmos de costas, mas de mãos dadas. Como diz Andrés Ortega, na "Foreign Policy", "não é fácil ser pólo".


Jornal do Brasil (RJ) 6/7/2007