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Futebol quase sempre

 

JÁ QUE O assunto é a Copa e a escolha do Brasil para realizá-la em 2014, vou entrar na onda. O anúncio da decisão da Fifa teve ares de feito nacional, com direito à presença do presidente da República, ministros, governadores dos maiores Estados da federação, além de uma comitiva menos votada de parlamentares, cartolas e sem-ingresso. Romário substituiu Pelé e deixou um enigma no ar: se vai ser ou não candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro, deixando a bola pelo bolo eleitoral.


Quando vi que tudo era esperança, fiquei meditando como o futebol é uma paixão que até antecipa o tempo. Lula, em 2014, já não será mais presidente, mas poderá ser candidato, pois será ano de eleição, e eu já terei 84 anos e espero estar torcendo por jogadores que nós nem sabemos quem serão, os atuais já estarão catalogados em velhos e quando muito serão comentaristas de esporte. Mas teremos estádios novos, com novas tecnologias de informação, com anúncios eletrônicos nas laterais e gramados à prova de chuva. Pelé deverá estar casando uma de suas gêmeas, e Romário já não brigará com ele. O celular deverá ser do tamanho da unha e obedecerá a um comando de voz, e o presidente Chávez fará um desfile naval no Rio de Janeiro, apresentando o seu porta-aviões Simon Bolívar, com direito a visitação e show aéreo.


Quem será o presidente? Não sei, na onda que vai, poderá até ser uma mulher. Se não sabemos quem estará governando o Brasil, sabemos quem será o presidente da CBF: o sortudo Ricardo Teixeira, pois tomou a vacina de colocar um dispositivo de que ela terá como presidente quem fez escolher o Brasil para sede da Copa.


Mas, na minha vida, jamais esquecerei uma Copa: a de 1950. Era a primeira vez que vinha ao Rio. O fatídico 16 de julho. Eu vinha para o Congresso da UNE, como delegado do Maranhão. Saí às 5h de São Luís, num Curtiss Comander do Lloyd Aéreo, um avião cargueiro da Segunda Guerra, que era como a Gol de hoje, passagem barata e tratamento zero. Os bancos, uma rede lateral. No meio, carga. Pousamos em Carolina, Porto Nacional, Formosa -onde embarcaram sacos de charque do Hugo Borghi, dono da empresa-, depois Belo Horizonte e chegada ao Rio. O avião jogou o tempo todo, e eu era só enjôo, com direito a esvaziar o estômago. Mais morto do que vivo, ouvi o comandante dizer: "Estamos sobrevoando o Maracanã, vejam os que estão à direta": vi e não vi. Estava muito mareado: eram 16 horas e 50 minutos. O comandante anuncia: "O Uruguai acaba de marcar um gol. O Brasil perdeu a Copa".


No Santos Dumont, saltei, saltamos todos os passageiros, sem querer saber de futebol e doidos para ir ao banheiro.


Jornal do Brasil (RJ) 2/11/2007