Já me vi algumas vezes diante dela, a inexorável morte, mas aqui estou. No início da década de 1960, aos 30 anos, tive três surtos seguidos de hepatite, doença então mais ou menos desconhecida, mas considerada “perigosa, mortal”. Ameaçado de partir, fiquei.
Em 1996, enfrentei meu pior momento, aos exatos 60 anos, quando dei com um aneurisma em uma artéria cerebral, a ponto de explodir.
Fui salvo pelos médicos Marcos Stávale e Ophir Irony e pelo Andréa Carta (então eu trabalhava na Vogue), que negociou tudo com a Amil.
Feita a cirurgia, vivi, escrevi um livro, Veia Bailarina, que ainda hoje ronda pelos consultórios médicos, recomendado a quem vai fazer cirurgia de alto risco. É um livro, digamos, apaziguador.
Fui chamado até para congressos de enfermeiras. Estas a quem devemos tudo. Alertas e pacientes – e coloquem paciência nisso – ante nossos surtos de impaciência, intolerância e exigência.
Sobre as enfermeiras que no Samaritano me atenderam por uma semana eu deveria escrever um livro.
Docilidade e carinhos em um momento em que o mundo e o Brasil estão polarizados em total extensão, prontos a esganarmos uns aos outros por nada.
As enfermeiras, reforço, deveriam estar pelo mundo a mostrar o que é resignação, caridade, amor ao próximo. Únicas, são a solução para o impasse atual. Se é que seja possível mostrar amor ao próximo para políticos, diplomatas, financistas, religiosos, facções, presidentes, militares, e fabricantes de bombas e armas. E tudo isso que se chama Humanidade, que existe há mais de dois milhões de anos, e é cada vez mais desumana.
Estas são sensações de alguém recém-saído, ainda zonzo, de um hospital. Passei por três ciclos de 30 anos. Espero atingir o quarto.
Tenho um romance no computador, tenho uma neta com 2 anos e meio. Ela mal aprendeu a subir escada, mas segue à minha frente, alertando, “cuidado vô, cuidado”, e me segura a mão. E deixar Márcia viúva? Nem pensar!
Sou apenas um cronista, ainda que Mário Prata não me considere. Jamais serei Yuval Noah Harari, que escreveu mais de mil páginas sobre a humanidade, mas defendo minha tese.
O mundo só poderá ser salvo pelas enfermeiras e enfermeiros. Lutam pela vida. Com docilidade, delicadeza e espantosa força. Isso, se deixarmos!
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[1] http://www2.euclidesdacunha.org.br/academicos/ignacio-de-loyola-brandao