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A decadência dos trios

 

Em comentário na CBN, falei sobre o trio final dos antigos times de futebol. Na formação clássica, o goleiro e os dois zagueiros formavam o aludido trio final: Castilho, Píndaro e Pinheiro, o trio final do Fluminense numa das melhores fases.


Não mais existe o trio final, agora são quatro zagueiros, mais o goleiro, formando o quinteto que nem chega a ser final, dois dos zagueiros vão para o meio-campo, somente o futebol de botão conserva a tradição.


Não foi apenas o trio final dos times que acabou. Acabaram, quase ao mesmo tempo, o Trio de Ouro (Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Nilo Chagas), o Trio de Osso (Lamartine Babo, Yara Sales e Héber de Bôscoli), Trio Madrigal, Trio Esperança, Trio Irakitan, Trio Ternura, Trio Tamba, Trio Surdina, Trio Nagô, Trio Melodia. E o meu preferido, o Trio Los Panchos, na formação inicial com Navarro, Gil e Avilés (Insultado pela invasão de seu terreiro, Ruy Castro promete mais e melhor).


Não sei se nas igrejas ainda existem tríduos aos santos, os três dias formando o trio que antecede certas festas. No Rio, o mais popular era o de são Jorge. Que só perdia para o Tríduo Momesco, os três dias do Carnaval - que agora são quatro e, na Bahia, é o ano todo. O Concílio Vaticano 2 parece que acabou com o tríduo dos santos, e o "Manual da Redação" dos jornais acabou com o clichê do tríduo momesco.


Sou ignorante no assunto (e em muitos outros), mas acho que sobrou apenas o trio elétrico, atrás do qual só não vai quem já morreu. Faço parte dos que, entre outras muitíssimas coisas, não sabem que já morreu.


Mas, eia! sus! sus! Sobrou também aquele trio que forma o triângulo que não deixa de ser um trio, Ele, Ela e o Outro, sobre o qual a Commedia Dell'Arte baseou-se para criar o Pierrô, o Arlequim e a Colombina.


Ao citá-los, desconfio que ainda estou na era das cavernas. Um tempo em que não havia trios: era Um contra Todos.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 04/12/2004

Folha de São Paulo (São Paulo), 04/12/2004