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Diferencial Lula

 

Político com estrada na vida pública, o mais experimentado na selva do poder, costuma dizer que nada resiste a uma foto, nenhum fato deve ser levado a sério se não for documentado por uma fotografia.


Isso explica a afobação dos papagaios-de-pirata que se espremem uns contra os outros quando um profissional embica a câmera em direção ao pormenor de um evento, seja um protagonista, seja um grupo reunido ao acaso.Todos querem provar presença e importância, mesmo sabendo que só raramente uma foto mereça entrar para a história.


A recíproca é verdadeira: pessoas importantes ou não se sentem obrigadas a tirar uma foto tendo o Taj Mahal ao fundo, a basílica de São Pedro, o Pão de Açúcar, até mesmo ao lado da estátua do Drummond de Andrade, em Copacabana, ou a de Fernando Pessoa, em Lisboa.


Faço o preâmbulo para exaltar a foto de Lula bebendo vinho ao lado da rainha e das princesas da uva, festa tradicional no calendário gaúcho. Não sei não, mas acho que desde o marechal Deodoro, todos os presidentes da República foram fotografados com as beldades da região, que, apesar de realmente belas, parecem sempre as mesmas, só mudando o presidente.


Até mesmo durante o regime militar, quando tentaram impor uma austeridade de quartel na vida pública, os marechais-presidentes deixaram-se fotografar na mesma cerimônia, louvando o saudável vinho dos pampas, sob o sorriso de aprovação das meninas, que levarão pela vida afora o título de rainha ou princesa da uva.


Há um diferencial na foto de Lula com as donas da festa. Alguns presidentes pagam o mico constrangidos, só para tirar a foto que documentará o prestígio e a qualidade da nossa produção vinícola. Cumprem o ritual e dão como feito o dever de casa.


JK e Collor nem davam importância ao vinho, mas à corte em volta deles. Lula foi diferente. É do ramo. Saboreou o vinho e nem olhou para as moças.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 10/01/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 10/01/2005