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Mudanças radicais

 

RIO DE JANEIRO - Muita gente não sabe -nem precisa saber-, mas, nos primeiros tempos da Revolução de 30, que acabou com a República Velha e iniciou a nova, foi publicado no "Diário Oficial"" um decreto cuja transcendência revelou o ânimo revolucionário daquele movimento.


Por ato do chefe do governo então provisório, que provisoriamente ficaria no poder por 15 anos, o nome da Escola Naval de Guerra foi mudado para Escola de Guerra Naval.


Depois de 30, tivemos outras tentativas de revolução, inclusive a de 1964, que mudou o nome do próprio país. Éramos então os Estados Unidos do Brasil, e passamos a ser República Federativa do Brasil. Ignoro se a mudança do nome alterou alguma coisa no desempenho nacional, mas, para mim, pessoalmente, valeu uma crise profissional que me obrigou a pedir demissão do jornal em que trabalhava.


Deu-se que os comandos militares anunciavam um novo ato institucional, que seria o segundo da série, até chegar ao quinto, em dezembro de 1968. Havia muita especulação sobre o seu conteúdo, e eu tive a péssima idéia de imaginar como seria o novo instrumento legal que nos regeria dali por diante. Em seu artigo primeiro, declarei que "Os Estados Unidos do Brasil, a partir desta data, será o Brasil dos Estados Unidos".


Bem ou mal, eu estava no clima revolucionário que dominava a nação. Mudando nomes, muda-se alguma coisa. Lembro um esplêndido bife que comi, certa vez, num restaurante suspeito de Paris, freqüentado por aquilo que o dono chamava de "damas da noite". Teria efeitos afrodisíacos e tinha o nome de "Filé ao molho Pompadour".


Anos depois, fui convidado a cear num convento perto de Perúgia. Ali as freiras me serviram o mesmo bife, mas com o nome de "Filé ao molho Santa Terezinha".


Folha de S. Paulo (SP) 24/4/2008