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Patrocínio e patrocinados

 

RIO DE JANEIRO - Num ano qualquer do século 20, um faquir com cara de indiano, mas nascido em Quixadá, encerrou-se numa urna de vidro com cinco cobras e prometeu bater o recorde mundial de jejum, ficando 58 dias sem nada comer. Chamava-se Silky. A marca anterior para tal e tamanha proeza fora de 57 dias, conquistada por um tailandês (parece que autêntico): morreu de indigestão quando voltou a comer normalmente.


A urna foi colocada no saguão de um dos maiores cinemas do Rio, havia gente que passava horas fiscalizando a honestidade daquele jejum, e quase todos despejavam, num cofre ao lado, a moeda ou a cédula de sua admiração ou incentivo.


Não me recordo se Silky quebrou ou não o recorde mundial. Sei que muitas vezes ia apreciá-lo entre as cobras, esquelético, olhos fundos, turbante equilibrado na cabeça e uma tanga que lhe dava o aspecto de um mahatma em fase terminal.


Fiquei sabendo, semana passada, que um outro faquir, natural da Tanzânia, deseja repetir a proeza, batendo o recorde mundial de fome, que atualmente anda na faixa dos 92 dias.


Tem tudo pronto: a urna, as cobras que arranjou no Pantanal, a tanga e o turbante. Mas só se submeterá à prova se obtiver patrocínio de uma estatal, de um plano de saúde ou de um fabricante de refrigerantes. Tudo pela Lei Rouanet.


Não sou influente a ponto de clamar pelo patrocínio do novo faquir. Sei que nada se faz, atualmente, em termos de espetáculo ou de promoção cultural, sem o financiamento prévio de alguma entidade benevolente, ligada de alguma forma ao governo ou a qualquer das ONGs em atividade.


Torço para que o faquir da Tanzânia obtenha o patrocínio. Irei vê-lo, pasmo, quando souber que ele ultrapassou a marca do seu rival indiano de Quixadá.


Folha de S. Paulo (SP) 15/6/2008