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Anúncios e reclames

 

No tempo dos bondes, além da paisagem, que corria lenta e paralela pelo lado de fora, havia os anúncios, que eram chamados de reclames, espalhados pelas cantoneiras laterais do veículo. Pelo menos um deles tornou-se famoso, com a quadrinha atribuída por uns a Olavo Bilac, por outros a Bastos Tigre: "Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro etc. etc.".


Nunca tomei o peitoral recomendado pelo reclame, tampouco quase morri de bronquite como o belo tipo faceiro que tinha a meu lado. (Geralmente, não era tão faceiro assim). Mas havia um anúncio que me causava horror. Um sujeito desesperado, com a pistola apontada para a própria cabeça, estava prestes a se matar. Um amigo aparecia de repente e gritava: "Não faça isso!". E receitava um tal de Elixir 914, que era tiro e queda para acabar com a sífilis, que era mais terrível na ortografia antiga, "syphilis".


Não me lembro se já tentei algum dia acabar com a vida. De qualquer forma, não foi por culpa da sífilis que nunca tive, mas por causa das mulheres que tive. E que, por pérfida maquinação do destino e de mim próprio, deixei de ter. Pulo para os anúncios, que agora não são mais reclames, e sim publicidade eletrônica.


Por mais que me ensinem como me livrar deles, toda vez que abro o notebook vem a enxurrada que me ensina a encompridar o pênis dois centímetros por mês (precisaria de um carrinho de mão para carregá-lo), a tomar viagra com a antecedência certa e, o mais inútil de todos, a deixar de fumar em apenas 7 dias.


Em respeito aos bons costumes e por questão de decência, não devo comentar os dois primeiros. Quanto ao terceiro, não pretendo deixar de fumar nem em 7 dias nem em 7 eternidades. Agora mesmo encomendei duas caixas de Cohiba pirâmide e os deliciosos "Romeo y Julieta", enrolados em capinhas de cedro. Já que não posso viver satisfeito, espero morrer satisfeitíssimo.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 10/03/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 10/03/2005