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Um chato de chapéu

 

Não sei quem inventou a expressão "chato de galocha". Deus é testemunha de que não fui eu, embora nunca as tenha usado e, honestamente, não sei por que a galocha faz um chato. Um sujeito já nasce chato independentemente de ter ou não ter galochas em seu enxoval de bebê.

Quero falar de um dos caras mais chatos que já andaram por nossas plagas. Usa chapéu, parece que de palha, que faz parte de seu visual básico, como o báculo e a mitra fazem parte do equipamento profissional de um bispo.


Garantiram-me que é um artista, bom cantor, líder de uma banda de sucesso internacional. Além disso, é um esforçado lutador de causas nobres -i gnoro tudo o que ele fala e diz em proveito geral da humanidade. Presumo que, como todos os politicamente corretos, ele faça apostolado contra a extinção das baleias e dos micos dourados, contra a devastação da selva amazônica e contra os gases poluentes que ameaçam a camada de ozônio, que protege a sua cabeça e a nossa, que nem temos a proteção de seu chapéu.


Dou de graça que mereça os fãs que tem e que os merece. Ganhará todos os prêmios por sua benemerência e por sua cruzada pelo bem e contra o mal. Como diria o Chacrinha, palmas para ele, inclusive as minhas.


Agora, que é chato é. Chega a abusar do direito de ser chato, lembrando, com muitos furos acima, o nosso Roberto Carlos, que também merece a multidão de fãs que conquistou. O Rei também andou uns tempos temendo pelo holocausto das baleias, a hecatombe dos micos dourados. De uns tempos para cá, mudou, parece que ficou mais humano. Embora vestido de comandante de navio, continua sendo um sujeito aproveitável - gosto dele, mas o quero longe de mim.


Quanto ao Bono, esse já vive mesmo longe de mim e eu dele. Suspeito que, na intimidade, ele adore um bom bife de baleia e só não coma mico dourado porque ouviu dizer que são indigestos.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 04/03/2006

Folha de São Paulo (São Paulo), 04/03/2006