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O melhor dos mundos

 

A decantada estabilidade financeira, peça de resistência do atual governo, tem alguma analogia com a paridade cambial mantida a alto custo pela primeira gestão de FHC. No atual furacão em que PT e Lula estão sendo arrastados, sempre há o argumento redentor: a economia vai bem, as contas estão equilibradas, a confiança internacional garantida.


Tecnicamente, talvez seja verdade. Mesmo assim, em se tratando de cifras, cálculos, previsões e expectativas, sempre há espaço para a manipulação. Exemplo: a renda nacional, que era de meia dúzia, subiu assombrosamente para seis.


Tal como no caso da paridade do real com o dólar, o custo desta estabilidade é altíssimo. A equipe econômica desvinculou-se do país, cortou as amarras com a nação, planeja e age como se fôssemos uma Suíça. Amealha nas burras da contabilidade tudo o que arrecada -e arrecada com mão de ferro por meio de impostos que estão entre os mais desumanos do mundo.


Agora mesmo, o ex-ministro da Educação Tarso Genro ficou satisfeito em sair do governo para presidir um partido político em crise. Ele não mais agüentava a falta de verbas, ou melhor, o não-pagamento de verbas, pois elas existiam, em Orçamento aprovado e em espécie, mas nunca eram liberadas. Ficavam nas citadas burras, para fazer a caixa do Palocci.


Uma caixa que não se destina a desenvolver o país, mas, tudo leva a crer, sobretudo agora que os escândalos explodem, a azeitar a campanha da reeleição de Lula. Antes de Tarso Genro, o ex-ministro da mesma pasta Cristóvão Buarque foi demitido por telefone pela ousadia e insistência com que cobrava as verbas para a Educação.


O mesmo poderia ser dito a respeito da saúde, da segurança, dos serviços essenciais, dos investimentos públicos que não saem do papel "por falta de verbas". Verbas que afinal estão sobrando, enchendo a boca daqueles que consideram o Brasil no melhor dos mundos. E a dobradinha Lula-Palocci, a salvadora da pátria.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 19/07/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 19/07/2005