Que estamos lutando para construir espaços mais diversos, plurais e respeitosos é evidente. No entanto, ainda encontramos uma série de barreiras para que esse cenário se torne realidade. Uma dessas barreiras é o aumento dos casos de racismo, porque a partir do momento que pessoas negras começam a acessar lugares que historicamente foram reservados para a branquitude, o racismo aflora.
Não porque as pessoas negras causam problemas nesses espaços, mas porque as pessoas racistas se sentem afrontadas. Por isso, é importante pontuarmos que o nosso compromisso é combater o racismo e não evitar que pessoas negras acessem esses espaços.
Esse compromisso precisa ser relembrado e reforçado reiteradamente, porque pessoas negras estão alçando voos cada vez mais altos. Na última semana tivemos a grata surpresa do anúncio de que Ana Maria Gonçalves tornou-se imortal pela Academia Brasileira de Letras, tendo apenas um voto contrário a sua eleição para a cadeira, que foi disputada com outros 11 intelectuais. Ana Maria é a primeira mulher negra a realizar esse feito em 128 anos de existência da instituição. O que é um grande orgulho e uma grande conquista para a comunidade, como um todo, não somente para às pessoas negras. Uma vez que a trajetória de Ana Maria se debruça para a elaboração de obras que discutam questões étnico-raciais. Com grande destaque para o livro. Um defeito de cor, que é nacional e internacionalmente conhecido.
A surpresa não é pelo nome de Ana Maria ter sido vitorioso, mas porque ainda anunciamos e celebramos a primeira mulher a receber uma nomeação. Apesar do anúncio ser de uma vitória, precisamos nos questionar por qual motivo as mulheres negras ainda levam mais de cem anos para alcançar espaços, que para pessoas brancas é quase natural. Infelizmente a única explicação é o racismo estrutural e institucional que organiza a nossa sociedade.
As primeiras empreendedoras do país, a primeira advogada reconhecida pela ordem dos advogados do Brasil, criadoras de uma série de inovações que utilizamos diariamente, são mulheres negras, mas mesmo assim, a sucessão e os lugares de destaque nesses espaços nos ainda são negados.
Precisamos comemorar cada pequena e grande vitória, mas não podemos deixar que essas vitórias nos façam esquecer da luta pelo coletivo e principalmente o combate ao racismo. Sempre haverão racistas para serem combatidos e sempre estaremos fortalecidas e protegidas, para seguir lutando e colocando essas pessoas no seu devido lugar. Uma vez que quando uma mulher negra é valorizada, e premiada, todas se fortalecem e dão um passo à frente em busca dos seus sonhos.
Pois a representatividade é capaz de motivar, mobilizar e incentivar a movimentação de toda uma sociedade. Então que os racista engulam seu racismo, porque nós vamos cada dia vencer e celebrar mais.
Matéria na íntegra: https://www.independente.com.br/artigo/a-primeira-mulher-negra-na-academia-brasileira-de-letras
15/07/2025