Aos 72 anos, o romancista, professor e tradutor é reconhecido como um dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea, não apenas pela qualidade de sua prosa, mas pela capacidade de resgatar, com densidade lírica e política, a complexidade da identidade amazônica. A candidatura foi formalizada após a abertura do processo de sucessão da cadeira nº 6, anteriormente ocupada pelo jornalista e ensaísta Cícero Sandroni, falecido recentemente.
Hatoum desponta como o nome favorito entre os três candidatos confirmados até o momento. A relevância de sua obra o coloca em posição de destaque, especialmente por ter consolidado uma produção que alia apuro estético à reflexão crítica sobre temas como memória, exílio, família e pertencimento.
Sua trilogia informal — composta por “Relato de um Certo Oriente” (1989), “Dois Irmãos” (2000) e “Cinzas do Norte” (2005) — conquistou, além do reconhecimento do público e da crítica, o prestigiado Prêmio Jabuti, reafirmando seu papel central na literatura brasileira das últimas décadas. Os três romances se passam em Manaus, cenário que Hatoum explora com profundo lirismo e precisão sensível, revelando as tensões e afetos de uma sociedade marcada por transformações históricas e conflitos íntimos.
A eleição está marcada para o dia 14 de agosto. Já no próximo dia 10 de julho, a escritora Ana Maria Gonçalves deve ser eleita como a primeira mulher negra a integrar a ABL, consolidando uma nova fase da Casa de Machado.
A seguir, os 10 livros mais conhecidos de Milton Hatoum, que ajudam a compreender a força e a diversidade de sua obra:
Relato de um Certo Oriente
Dois Irmãos
Cinzas do Norte
Órfãos do Eldorado
A Noite da Espera
Pontos de Fuga
Lugar
A Cidade Ilhada
O Adeus do Comandante
Um Solitário à Espreita
A candidatura de Milton Hatoum à Academia Brasileira de Letras representa mais do que uma disputa por uma cadeira simbólica: é um gesto de reconhecimento à força literária oriunda da Amazônia e ao papel transformador da literatura na construção da identidade nacional. Sua obra, marcada por narrativas densas, afetivas e politicamente engajadas, construiu pontes entre o regional e o universal, colocando Manaus no mapa da ficção brasileira com altivez e profundidade.
Caso eleito, Hatoum levará à ABL não apenas o peso de sua trajetória premiada, mas também uma voz que amplia os horizontes da cultura nacional, fortalecendo o compromisso da instituição com a diversidade, a memória e a renovação literária do país. Em tempos de transição e abertura na Casa de Machado, sua entrada pode sinalizar um novo ciclo, onde o Brasil plural e periférico também se faz centro.
Matéria na íntegra: https://jornaldafronteira.com.br/milton-hatoum/
07/07/2025