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Balas e agulhas

 

Uma furadeira na mão poderia ser uma arma. O som de um pneu estoura poderia ser o de um tiro. Eram possibilidades, viraram tiros certeiros.
 
Rafael da Silva. 17, morreu no domingo com uma bala de fuzil no pescoço quando estava no carro da mãe com cinco jovens em Cordovil, na zona norte do Rio. Policiais disseram ter ouvido um "disparo". O sargento da PM está preso.
 
Hélio Ribeiro, 47, morreu em maio de 2010, atingido por um disparo no terraço de casa, no Andaraí, com uma furadcira na mão. Sua mulher regava as plantas. A polícia fazia uma operação na área e achou que tinha uma arma. O cabo do Bope que o matou foi absolvido.

Pontaria perfeita, com origem em treinamento feito para matar. Mortes absurdas como essas não deveriam acontecer. Uma política de segurança que tenta mudar paradigmas exige intensificação do preparo e corregedoria rigorosa.

Um porção de sopa, meia xícara de café com leite. Dois tubos trocados. Duas idosas mortas.

Uma estagiaria aplicou café com leite na convnte sangüínea de Palmerina Pires Ribeiro, 80, no Posto de Assistência de São João de Meriti. Nunca tinha misturado medicamentos. A responsável falava ao celular. Foram exoneradas.
 
Uma técnica de enfermagem injetou sopa na veia de Ilda Vitor Maciel, 88, na Santa Casa de Barra Mansa. Foi afastada. Outros 36 já tinham sido expulsos por exercício ilegal.

Isoladamente, cada caso pode ser entendido como fatalidade, à qual se misturam incompetência e falta de treinamento. Reunidos, simbolizam uma estrutura pública sem respeito pela vida dos cidadãos.

Retrato exímio de um país que alardeia a todo instante que deixou o terceiro mundo, mas está mais próximo do Congo do que da Noruega.

Uma arma e uma seringa deveriam salvar vidas. Por aqui ainda tiram.

Diário da Manhã (GO), 01/11/2012