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Barulho por nada

 

Tanto a classe política como a mídia que cobre os movimentos do setor passaram as duas últimas semanas em estado de excitação causada pela expectativa da reforma do ministério, que, na realidade, não chega a ser reforma, mas simples acomodação no enlameado terreno da próxima sucessão presidencial.


Em essência, nada muda em termos de administração, de critérios programáticos que elegeram o atual governo. Ministros serão afastados ou deslocados sem qualquer relação com a performance de cada um.


Acredita-se que a figura de um ministro seja apenas ornamental, as questões que realmente importam são tocadas pelos funcionários que formam a máquina operacional de cada segmento da administração pública.


O argumento seria válido em países que criaram e mantêm um quadro profissional independente da cúpula política. Não é o caso do Brasil. Muda ministro e mudam porteiros, motoristas, contínuos que servem o cafezinho. Tudo obedecendo aos esquemas de poder e de distribuição de verbas exigidos pelos pretendentes que apoiarão não apenas a ação do governo mas o cenário que garantirá um segundo mandato para Lula.


Bem, as coisas são assim mesmo -política exige, às vezes, coisas piores. Compreendo a gula dos candidatos ao ministério, a preferência pelos orçamentos mais fartos de determinadas pastas. O que não compreendo é o entusiasmo da mídia em patrocinar, velada ou ostensivamente, conforme o caso, as pretensões de uns e de outros, na base do fulano é melhor do que sicrano.


Num caso de mudança (e não de reforma) ministerial como a de agora, todos, os bons, os maus e os mais ou menos, estão nivelados pelo interesse ou pelo compromisso em manter o atual núcleo de poder, e não em melhorá-lo.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 19/01/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 19/01/2005