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Coisas nossas

 

Está na berlinda a aposentadoria de alguns ex-governadores. Não sou entendido no assunto, acho que a Constituição Federal é omissa na matéria, o privilégio figura em algumas Constituições estaduais. Caberá ao STF decidir o problema. Leio que a OAB vai entrar com uma ação a propósito. Esperemos.

Não sei por quê as tetranetas de Tiradentes também foram citadas. Elas recebem uma ninharia, mas recebem. Tenho a impressão que o caso delas é de indenização, aliás merecida. O nosso alferes foi considerado “infame” por quatro ou cinco gerações. Nada demais que reparemos essa injustiça, que na realidade foi um crime de Portugal contra a colônia.

Embora nada tenha a ver, lembro o costume de outras eras: Santo Antônio, devoção entranhada dos portugueses que passou para brasileiros, tem uma exemplar folha funcional. Um livro do acadêmico e ex-ministro José Carlos Macedo Soares ensinou-me que Santo Antônio era membro de nossas Forças Armadas e recebia soldo. Na Bahia, era tenente-coronel, em Goiás, capitão, em São Paulo, coronel. Para compensar, na Paraíba era soldado raso, embora major em Santa Catarina.

No Rio de Janeiro era também tenente-coronel e, em Minas Gerais, simples capitão. Durante a Guerra dos Palmares, dom João da Cunha Souto Maior mandou Santo Antônio se alistar e dom João 5.º o promoveu a tenente em 1717.

Além da carreira militar, o santo teve igualmente uma carreira civil. Vamos encontrá-lo vereador em Iguaraçu e suplente de senador em Montes Azuis. No final do século 19, ele foi processado como latifundiário na Bahia, por ainda manter escravos na fazenda de Queimadas. Respondeu a juízo e foi condenado à revelia, perdendo bens e sendo obrigado a pagar juros e despesas cartoriais.

Tudo é possível neste Brasil.

Folha de São Paulo, 30/1/2011