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Haja saco

 

O futuro do jornal impresso é um dos temas que mais preocupam os entendidos em comunicação -e não me incluo entre eles. Preço do papel, distribuição, custo de impressão, defasagem entre o fato e a notícia, concorrência com as novas mídias são muitos os elementos que concorrem para a geleia geral que indica, entre outras coisas, o fim do que se podia chamar de era do papel cheio dos tipos móveis criados por Gutenberg.

O problema seria do conteúdo? Muitos teóricos acreditam que sim, não há uma solução técnica para cobrir a lerdeza com que os jornais noticiam a eleição de um papa ou o placar do clássico da véspera.

Sim, na mídia impressa há espaço bastante para a análise dos fatos, os comentários, as versões diferenciadas etc. Mas até mesmo nesse departamento os meios eletrônicos estão tornando o jornal dispensável. E, a meu ver, a redundância editorial é um de seus males.

Não se trata da disputa pelo furo, pela exclusividade da notícia ou do comentário que também contamina a mídia eletrônica. Mas a redundância predomina até mesmo dentro de cada veículo. Na preocupação de não deixar pedra sobre pedra de determinado assunto, publicando reportagens na base do "Saiba Tudo" sobre o Cachoeira, o Demóstenes, a gordura do Ronaldo, o próprio conteúdo em sua parte mais nobre se dilui na repetição, na uniformidade da opinião, na própria velhice da notícia.

Para evitar a redundância, ninguém chegará ao exagero de louvar a corrupção ou a ficha suja. Mas outro dia, um jornal do Rio deu quatro páginas sobre um assunto menos emocionante do que as trapalhadas do Cachoeira. Haja saco.

Errei: na crônica do último domingo, troquei as bolas e citei Alfred Rosenberg em vez de Joachim Ribbentrop.

Folha de São Paulo, 24/4/2012