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O parecer robusto

 

Venho acompanhando, dentro do possível, o julgamento do mensalão, no STF. Palmas para a TV Justiça, que dá àquela corte a visibilidade e o respeito de todos nós.

Em linhas gerais, aprecio os debates e admiro os senhores ministros. Mesmo assim, volta e meia me espanto com a linguagem que os advogados e juízes ainda usam.

Numa das últimas sessões, pincei o adjetivo "robusto" em algumas declarações, na base do "robusto argumento" ou "robusto parecer". Tudo bem, é com robusta razão que podemos usar as palavras que constam de nossos dicionários.

Mesmo assim, lembrei a lição que o Adolpho Bloch me deu quando publiquei, na revista que eu editava, uma crônica do Otto Lara Resende -de quem, aliás, o Adolpho era fã de carteirinha. Foi um dos primeiros e mais famosos editores da "Manchete", dando-lhe a feição moderna que desbancou a liderança de "O Cruzeiro" no mercado das revistas.

Era um comentário do Otto a um livro de seu amigo Pedro Nava, que fazia parte dos mineiros famosos que atuavam na imprensa carioca. Em dado momento, o Otto destacava um trecho que considerava "robusto" no estilo do Nava.

Li a crônica antes de paginá-la e nada achei de reprovável no texto de um dos maiores mestres de nossa literatura. O Otto achava que o Nava havia feito, a respeito da precariedade dos nossos hospitais e centros de saúde, um "comentário robusto".

Adolpho me chamou com a revista na mão, dobrada justamente na crônica do Otto: "Você leu isso antes de publicar?". Respondi que sim. E que nada achara de reprovável no texto de um dos mestres de nossa imprensa.

Adolpho atirou com certa raiva a revista em cima da mesa e me pediu: "Diga ao Otto que robusto, aqui, é só o bebê Johnson!".

Folha de S. Paulo (RJ), 28/8/2012