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Artigos

  • A grande farra

    Reclamam do cronista o pessimismo em relação à democracia representativa como ela vem sendo exercida em quase todo o mundo, sobretudo no Brasil, onde não há partidos que representem qualquer coisa. No passado, o PCB e, até bem pouco tempo, o PT eram exceções relativamente tíbias, mas funcionavam: sabia-se quem e o que pensavam e queriam os que votavam nos dois partidos.

  • Sociedade, mídia e autocrítica

    Está na moda falar em sociedade. Durante o regime militar, era comum a alusão à sociedade civil, em oposição a outro tipo de sociedade, a do sistema totalitário, que incluía alguns civis, mas era predominantemente gerenciada, tutelada e policiada por integrantes das Forças Armadas.

  • O professor ideal

    Estamos vivendo uma curiosa fase dos “quase”. O escritor Carlos Heitor Cony lançou o seu “Quase Memória”, para muitos uma obra definitiva. Mais recentemente, tivemos o “Quase Danuza”, em que a jornalista desnuda suas dores e alegrias, pessoais e profissionais, pormenorizando sobretudo os históricos casamentos com Samuel Wainer e Antônio Maria.

  • De burro e dos burros

    O lugar-comum garante que somente os burros se admiram de alguma coisa. Devo ser burro o bastante para sempre me admirar de tudo, e cada vez mais. Não diante dos palácios e castelos, que não os admiro como a tradição afirma que os burros o fazem, certamente por falta do que admirar nos homens e nas demais coisas do homem.

  • O leite derramado

    Fui mexer numa pasta antiga, procurando um texto que o Otto Maria Carpeaux escreveu e não conseguiu publicar num dos suplementos literários da época. Devolveram-lhe o artigo com um conselho: que o autor mudasse de opinião sobre determinado livro que acabara de ser lançado.Não encontrei o texto (estava em outra pasta), mas um recorte de revista (também daquele tempo), com a pesquisa de uma universidade norte-americana revelando que um homem comum, vivendo a média de 68 anos (expectativa de vida na época), teria direito a 1.850 relações sexuais bem-sucedidas, não explicitando o tipo de relação, se homo ou heterossexual, anal, oral ou convencional.

  • O senhor Cartola

    Não tenho tempo e, mesmo que tivesse, não teria interesse em saber quantas horas e em quantos lugares o presidente da República permanece em palanques, improvisados ou não, falando bem de si mesmo e falando mal dos outros. Semana passada, num só dia, inaugurou coisas já inauguradas em três Estados do Nordeste, cumprindo a liturgia primária dos comícios eleitorais e não o cerimonial administrativo.

  • Crime visual

    Além da agressão sexual, punida pela lei e pelos bons costumes sociais, além da agressão moral, que é um conceito novo na legislação, uma vez que já existem os crimes de difamação, injúria e calúnia, surge agora a agressão visual, mais profunda que a poluição visual.A diferença parece semântica, mas não é. A poluição é um mau uso que deve ser combatido pela sociedade e particularmente pelo cidadão que se sinta prejudicado em seu bom gosto ecológico ou visual. Acredito que existem órgãos específicos para tratar desses casos. Não chegam a ser crimes, mas hábitos que devem ser denunciados.

  • O nada e o tomate

    Apesar de acompanhar com tédio os eventos públicos, fico impressionado quando os chefes de Estado se encontram em reuniões coletivas ou setorizadas, geralmente um com outro, quando então se deve esperar dos dois mandatários mais substância e objetividade nos pronunciamentos, intenções, concordâncias ou mesmo discordâncias acaso existentes.Bem verdade que os encontros com chefes de Estado e de governo são agora bem mais freqüentes em todas as partes do mundo, e não se pode negar a oportunidade que fornecem para aproximar, social e pessoalmente, os responsáveis pelo destino das nações.

  • O gato e o rato

    Acompanho à distância e sem muito entusiasmo a cobertura dos bastidores da política nacional. Bem ou mal, por dever de ofício, não de consciência ou vontade, passo por um canal da TV e descubro um cidadão dizendo alguma coisa para os outros cidadãos, inclusive para mim, que mal e porcamente me considero cidadão.

  • Elis Regina e as Guerras Púnicas

    Amigo meu, dos mais queridos, acusa-me de sempre falar nas Guerras Púnicas quando estou sem assunto e, pior do que isso, quando tenho um bom assunto pela frente. Dou o pescoço à forca: é verdade e, mais do que verdade, é uma necessidade de minha parte.

  • Ele está entre nós

    Sempre me preocupei com o Demônio. Mais com ele do que com Deus. Afinal, se Deus é bom, justo e misericordioso, de uma forma ou de outra ele sempre dará um jeito de me ajudar, de me compreender ou de me perdoar. Consegue mais do que eu próprio, que nem sempre me compreendo e geralmente não me perdôo.

  • Expressão de machismo

    Alguns leitores reclamam que o cronista sempre começa seus textos dizendo que não entende de nada e que, apesar disso, de nada entender de nada, dá sempre um palpite na ilusão de que, no fundo, pretenda entender de alguma coisa.

  • Porcos iluminados

    Uma equipe da Universidade Nacional de Taiwan criou pela primeira vez porcos transgênicos fosforescentes a partir da injeção de material genético de águas-vivas. Wu Shinn-chih, do Departamento de Ciência e Tecnologia daquela universidade, explicou que os porcos iluminados vão permitir o monitoramento nos tecidos dos animais durante o desenvolvimento físico, inclusive no homem.

  • O bufão triste

    Cena de "Rei Lear", logo após dividir o reino entre as filhas e chamar o bufão da corte para se distrair ou para saber como iam ou iriam as coisas após a decisão que tomara. Na linguagem própria dos bufões, cifrada, cheia de alusões e de subentendidos, o bufão diz o que mais ou menos está pensando. O rei o encara e comenta: "És um bufão triste!".(Alguns tradutores preferem o "bufão amargo" - bitter fool -, eu prefiro o "triste", tradução de Louis Aragon para o mesmo trecho, num poema dedicado a Carlitos).

  • O suicídio do general

    Cada vez entendo menos das coisas e dos homens. Em criança, entendia quase tudo, tudo era como era, encontrei um mundo pronto, chuva quando havia chuva, sol quando havia sol, as pessoas, as casas, tudo estava ali porque devia estar. Não precisavam de explicações nem justificativas. Até que era uma posição meio filosófica, herdada sem querer de Sócrates. Eu era um pré-socrático sem saber.