Arno Wehling
Cadeira n. 37. Diretor das Bibliotecas
Nas Sentenças do escritor latino Publílio Siro, que se estudava nas aulas de latim do então curso clássico, havia uma invariavelmente dada aos alunos para tradução ou versão: “a palavra é o espelho da alma; tal o homem, tal a palavra”.
Se a afirmação for verdadeira, os Discursos Acadêmicos da Academia Brasileira de Letras, representam não apenas o espelho da alma dos membros da instituição, mas permitem reconhecer o estado de espírito e o ambiente cultural de parte significativa da intelectualidade brasileira de fins do século XIX até o presente.
Os Discursos se iniciam pelos de Machado de Assis e Joaquim Nabuco na sessão inaugural da entidade, em 20 de julho de 1897 e, a partir daí, constituem precioso repositório dos pronunciamentos dos acadêmicos por ocasião das posses solenes na instituição, tanto dos ingressantes quanto das “respostas” a eles dadas pelos acadêmicos que os recebiam.
Os textos não possuem uniformidade estrutural, embora em geral obedeçam à fórmula do elogio aos antecessores, de modo a acentuar a continuidade institucional da Casa. Consistem em referências ou análises, pelo acadêmico ingressante, sobre aspectos do pensamento, da percepção estética e da visão de mundo daqueles que o antecederam na Cadeira, além de reflexões sobre a própria Academia ou o país. E o discurso daquele que o recebe, por sua vez, usualmente faz a apreciação de traços significativos da obra do novo acadêmico.
Torna-se assim, como destacou o presidente Ivan Junqueira na introdução a um dos volumes publicados, precioso repositório da vida cultural brasileira, pois pelos discursos “se pode avaliar, de alguma forma e até certo ponto, a situação da literatura brasileira e do movimento de ideias”. Referia-se ao início do século XX, mas podemos estender a percepção ao conjunto dos textos, de modo que, com essa publicação on-line, passamos a dispor de importante fonte para o conhecimento dos mais variados aspectos da história cultural do Brasil.