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O herói e o vilão

 

Arafat foi um dos heróis do nosso tempo. A afirmação é polêmica, como quase tudo na vida. Foi um terrorista, entrou no plenário da ONU com dois revólveres na cintura, um vilão de faroeste. O regimento daquele organismo internacional proíbe armas no recinto destinado a promover e a garantir a paz no mundo.


Arafat tornou-se um obstáculo, não o mais importante, mas o mais visível para o fim dos conflitos no Oriente Médio. O mais visível, repito, não o mais importante. A crise não morre com ele, pelo contrário, é capaz de aumentar a curto ou médio prazo.


Todos sabem o que é um terrorista. É o sujeito que mata (ou manda matar) inocentes, crianças, velhos, doentes. Funda e mantém entidades, ou até mesmo exércitos regulares, para a missão de matar e de destruir bens e valores espirituais dos inimigos. Arafat enquadrou-se perfeitamente nessa classificação.


Contudo, volto a insistir, é um dos heróis do nosso tempo. Napoleão foi considerado o "açougueiro da Europa". Judite, que integra com honra o panteão dos judeus, de certa forma foi também uma terrorista, matou o rei inimigo durante o sono em benefício de seu povo, oprimido pelo tirano.


O mesmo deve ser dito de Menahem Begin, que teve seu nome e sua foto em cartazes espalhados por toda a Comunidade Britânica, identificado como terrorista e com prêmio oferecido pela sua captura vivo ou morto, como nos tempos do faroeste acima citado. No entanto é um herói para Israel e ganhou o Prêmio Nobel da Paz, que também foi dado a Arafat.


Resta a questão, para mim irrelevante, de saber quem tem razão. Na minha opinião, todos têm razão, sobretudo judeus e palestinos. Daí que a melhor definição de uma guerra é o choque armado de duas vontades. E o mais forte é o que vence, apenas isso, vence.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 13/11/2004

Folha de São Paulo (São Paulo), 13/11/2004