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Limpeza de terreno

 

O governo federal decretou intervenção em hospitais da Prefeitura do Rio de Janeiro. O motivo não deixa de ser verdadeiro e grave: há descalabro nos hospitais municipais, mas há também descalabro na rede federal da saúde. As verbas da União são insuficientes, as existentes não são repassadas normalmente, o mesmo acontecendo com as verbas destinadas à educação.


Não creio que a atitude do governo federal seja a de melhorar os hospitais do Rio. A medida adotada pelos homens de Brasília faz parte da partida preliminar para o grande jogo principal que é a sucessão presidencial de 2006.


Por mais que pareça incrível, a turma lá de cima começa a limpar o terreno para a reeleição de Lula e desde já procura fritar possíveis candidaturas, duas delas ligadas ao Rio: a do ex-governador Garotinho e a do prefeito Cesar Maia.


Evidente que os estrategistas da reeleição não levem a sério o prefeito carioca e o governador fluminense. O pré-candidato que pode bagunçar o esquema da reeleição é o governador de São Paulo, mas esse ficará para depois, para a reta final, quem sabe até mesmo para um possível segundo turno.


Garotinho e Cesar Maia cultivam ambições; o primeiro teve boa votação na sua primeira tentativa de ir para o Planalto. Cesar Maia é teimoso e tinhoso, não tem muitas fichas para ganhar mas pode atrapalhar, inclusive fazendo alianças que mais cedo ou mais tarde poderão complicar o esquema da reeleição.


Dentro deste quadro especulativo, em que as variáveis, como sempre, são mais numerosas do que as invariáveis, a tática para garantir um segundo mandato para Lula, faltando ainda dois anos para o apito final, é desde agora se livrar de pretensões localizadas, sem chances de ameaçar as feras lá de cima, mas capazes de bagunçar o quadro sucessório.


Tentando desmoralizar dois pré-candidatos do Rio, o cenário fica armado para uma final que privilegiará o mais forte, o candidato que está no poder.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 14/03/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 14/03/2005