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Eles têm razão

 

O debate da segunda-feira com os quatro candidatos presidenciais se engalfinhando num palavrório que beirou o baixo calão, lembrou um pouco aquelas lutas de vale-tudo, onde vários brutamontes se enfrentam e, na base marmelada, em certo momento três deles resolvem encher de bolachas o quarto, que faz papel de vítima.


Longe de mim imaginar que o debate foi combinado, até porque Serra não se prestaria ao papel de saco de pancadas. Mas sem dúvida, na expressão de Boris Casoy, em certos momentos os três candidatos da oposição jogaram na base da tabelinha, para furar a defesa do candidato de Fernando Henrique Cardoso.


Esta tática de massacre de um dos contendores certamente foi aconselhada aos seus pupilos pelos marqueteiros de Lula, Ciro e Garotinho. Se não combinaram antes da refrega, digamos que aconteceu uma grande coincidência. Não foi combinado? Está certo, Me engana que eu gosto.


Mas o que escandaliza quem gostaria de ver um debate civilizado, com discussão de idéias e programas, mais do que a possível "combinazione", foi o tom grosseiro e insultuoso que pontilhou alguns momentos do encontro.


Por favor, cavalheiros, a exposição de ânimo tão agressivo numa discussão de problemas nacionais, da parte de quem se propõe presidir a República, demonstra um certo desequilíbrio emocional incompatível com o exercício do cargo de primeiro mandatário.


No entanto, o que se viu na televisão na noite de segunda-feira foi um bate-boca de rua, daqueles em que nenhum dos contendores quer levar desaforo para casa. Os eleitores não merecem assistir a tal espetáculo deprimente, por mais engraçado que possa parecer um homem público insultando o outro diante de milhões de telespectadores.


Realmente seria engraçado, se não fosse tão triste. Nós, da imprensa, também temos um pouco de culpa, quando reclamamos dos debates mornos sobre temas técnicos. Mas isto não nos impede de criticar a baixaria do debate de ontem, quando, o que nos deixou tristes, foi constatar que os quatro, ao se acusarem uns aos outros, têm toda razão.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 04/09/2002

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 04/09/2002