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O azar e o destino

 

Hotéis, hospitais e até mesmo alguns edifícios comerciais, seguindo a paranóia americana que sataniza com a mesma violência tanto o cigarro como os estrangeiros suspeitos de atos terroristas, há muito aboliram o 13 andar, e já andei num navio que pulava da ponte 12 diretamente para a 14 - não sei porque, nos navios, os andares são pontes.


Tudo bem. Mas nem o Pentágono, nem o Departamento de Estado, nem o FMI, apesar da hegemonia militar, política e econômica que exercem no mundo todo, tiveram coragem de abolir o dia 13 dos nossos calendários. Sendo de natural nefastos, sobretudo quando caem numa sexta-feira, são mais nefastos quando se trata de agosto, um mês que tem fama de cruel e de nos trazer ventos e desgostos.


Tenho amigos que evitam sair de casa num 13 de agosto, como hoje. Dois deles têm lá suas razões: ficam em casa o ano todo, foram assaltados nas ruas aqui do Rio, um ficou sem a mulher, outro ficou sem a mão, o bandido cortou-a para levar um anel com enorme rubi, era advogado e tinha orgulho daquele símbolo de sua profissão.


Em sinal de protesto, e não por medo, decidiram nunca mais sair de casa. Contudo, houve tempo em que a escola parecia risonha e franca, podia-se andar nas ruas sem medo de assaltos.


Mesmo assim, já naquele tempo, no dia 13 de agosto muita gente não se atrevia, seguro morreu de velho. E o medo era mais amplo, universal. Não se temia o bandido mas o destino, como um todo: o atropelamento, o bueiro aberto, a marquise que caía sobre a cabeça.


Ainda não era tempo da bala perdida mas o destino preparava sempre alguma contra a gente. Foi na madrugada de um 13 de agosto, de ano já distante, que um guarda florestal quis me levar para a delegacia porque, em boa companhia, estava atentando contra os bons costumes no Parque da Cidade.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 13/08/2003

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 13/08/2003