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Abaixo o obelisco

 

Uma boa idéia a do atual prefeito do Rio em promover plebiscito sobre a retirada (ou não) de um pavoroso obelisco que entope o tráfego e enfeia a paisagem na confluência de pequenas ruas em Ipanema, quase Leblon. O monstrengo ali foi colocado sem se ouvir a opinião da plebe e causa mais irritação que admiração.


Nada a ver com obeliscos famosos que conhecemos em praças amplas, como a Concorde, em Paris, ou a São Pedro, no Vaticano. Nem mesmo em meio de avenidas monumentais, como em Buenos Aires e no próprio Rio, final da avenida Rio Branco, que serviu até para amarrar os cavalos dos revolucionários gaúchos, em 1930. Em Washington há também um obelisco, (menos nobre que os de Paris e Roma, que vieram de sítios históricos), feito ao que parece de concreto e pedras justapostas. Vale como símbolo do poder, não enfeia a cidade nem atrapalha o trânsito.


O obelisco de Ipanema dá razão àquele ditado segundo o qual um grande mal nunca vem sozinho: atrai outros. No caso, além do obelisco esquálido, de material vulgar e perspectiva mesquinha, há uma passarela levando o nada a lugar nenhum. O conjunto dá vontade de chorar.


Se há cidade no mundo que não precisa de mão humana para ganhar beleza ou imponência, o Rio ocupa a ‘pole position’. Saiu fantástico da criação, engenho e arte dos homens somente o enfearam. Aceita-se como inarredável o Cristo Redentor, cujo pedestal é tão imponente e único que se ali for colocado um gigantesco aparelho de micro-ondas daria mais ou menos no mesmo.


Não sei como será o tal plebiscito que o prefeito quer promover. Não gosto de votar nem para síndico do prédio onde moro, mas deixo meu voto antecipado contra o obelisco, a passarela e seus penduricalhos.


Folha de S. Paulo (RJ), 12/4/2009.