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ABL na mídia - ABC do ABC - Itaú Cultural homenageia Ailton Krenak

 

Muito se sabe sobre os livros escritos por Ailton Krenak e traduzidos nos mais variados idiomas. Poucos conhecem, no entanto, a sua produção poética, os seus desenhos acondicionados em caderninhos com espiral, as pinturas feitas com tinta a óleo, nanquim ou urucum representando a fauna, os rios e os territórios indígenas. Tudo isso e muito mais é apresentado na Ocupação Ailton Krenak – ou Men am-ním Ailton Krenak, como estará estampado para o público –, que fica em cartaz de 4 de setembro a 23 de novembro, no piso térreo do Itaú Cultural (IC).

Primeira mostra dedicada a uma personalidade indígena nesta série iniciada há 16 anos, a Ocupação Ailton Krenak traça o arco da vida até hoje de Ailton Alves Lacerda Krenak, nascido em 29 de setembro de 1953, no município de Itabirinha, em Minas Gerais – então distrito de Itabira –, na região do Vale do Rio Doce. Para isso, ela reúne mais de 90 peças, entre fotos, vídeos – alguns históricos, outros com depoimentos –, recortes de jornais, livros publicados, além dos desenhos, pinturas, poemas clássicos e haicais. O espaço expositivo leva o vermelho do urucum, o preto do jenipapo e o verde da natureza como cores predominantes.

É todo um caminho esculpido por Ailton na pauta da defesa dos direitos dos povos indígenas, da justiça socioambiental e da valorização dos saberes ancestrais. Ao longo de décadas, ele teve atuação política, tornou-se escritor, filósofo, pensador, poeta, conferencista e ativista amplamente reconhecido por sua luta no Brasil e no exterior. Há dois anos se tornou membro da Academia Brasileira de Letras, sendo também o primeiro indígena brasileiro a ocupar uma das cadeiras da ABL.

Ocupação Ailton Krenak tem realização, curadoria e expografia do Itaú Cultural, com consultoria da jornalista, escritora e produtora cultural Angela Pappiani e da escritora, atriz, diretora de cinema e de teatro e ilustradora Rita Carelli. A consultoria criativa é da artista e ativista dos direitos indígenas Moara Tupinambá e da terapeuta integrativa e produtora cultural Ingrid Tupinambá. Um site com conteúdo exclusivo (itaucultural.org.br/ocupacao) e uma publicação impressa e disponível on-line acompanham a mostra. A proposta é que o livreto físico seja compartilhado: quem já tiver lido, pode deixá-lo em estações de transporte público, praças ou bibliotecas comunitárias. Ainda tem uma surpresa: inspirada no ato de fazer brotar da terra, a equipe IC incluiu um marcador de páginas feito em papel-semente para ser plantado em qualquer lugar da cidade.

A exposição

A entrada leva o visitante diretamente para o território do povo Krenak, onde o homenageado vive, em Minas Gerais. O Rio Doce – chamado Watu, em seu idioma – é um norteador desse espaço. Para este povo, o rio não é apenas água; é, principalmente, um ser ancestral, entidade viva e sagrada que faz parte de sua identidade e cosmologia. É um avô, como costuma dizer Ailton.

Em 2015, este rio foi morto – como se refere Ní Krenak, liderança do povo Krenak, ativista e sua companheira – após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, considerado a maior tragédia ambiental brasileira. Em um vídeo gravado na chamada casa-mãe, situada no centro da aldeia e por onde o Watu passa, Ailton e Ní contam como era a vida da comunidade antes e após o desastre ambiental.

Um desenho de outro rio, o Juruá, feito por Ailton e exibido como uma animação poética narrada por ele, está entre os destaques deste espaço. À medida em que o desenho vai evoluindo, o autor conta o que estava pensando na hora de fazê-lo e o que ele representa. A obra se chama O rio leva ao norte e ilustrou o livro Vive, Human Beings! Message from the Amazon, do fotógrafo Hiromi Nagakura.

Um documento cronológico remonta a registros históricos, como a litografia Botocudos (1835), de Johann Moritz Rugendas, que faz referência aos ancestrais do povo Krenak, um mapa gravura de William John Steains, de 1888, e as fotos tiradas em 1909 pelo fotógrafo alemão Walter Garbe. Este espaço vai acompanhando a trilha de Ailton, recordando o seu trabalho como agente cultural, comunicador e criador, por exemplo, do Núcleo de Cultura Indígena. Também são exibidos exemplares do Jornal Indígena, fundado por ele, e áudios do Programa de Índio, produzido por Angela Pappiani e apresentado por ele e lideranças indígenas, entre 1985 e 1991, na Rádio USP e em outras emissoras educativas em vários estados do Brasil. Esta foi uma das ferramentas que avivaram a comunicação entre as aldeias e o povo das cidades, com a divulgação de informações que não aconteceriam em outros canais de veiculação.

Assim, o caminho da Ocupação conduz naturalmente para a atuação política de Ailton. Entre documentos, matérias de jornais e fotos, encontram-se vídeos gravados pela equipe do Itaú Cultural com depoimentos de outras personalidades indígenas, como a professora Severiá Idioriê e o líder Cipassé Xavante, além de Angela Pappiani. Eles contam os bastidores e a articulação entre os povos indígenas, com a contribuição de Ailton, que os representou na Assembleia Nacional Constituinte de 1987. Também está presente na exposição o vídeo do icônico discurso que ele fez nessa ocasião, quando subiu à tribuna vestido com um terno branco e falou enquanto pintava o rosto com a pasta preta do jenipapo, associada ao luto —, em protesto contra o retrocesso nos direitos indígenas que se desenhava para a nova Constituição.

Obras, poemas livros

A forte conexão de Ailton com a arte visual ancestral e da natureza pode ser vista na exposição entre suas pinturas e cadernos de desenhos. Ao lado dos poemas, o conjunto forma uma espécie de jardim poético que encerra a mostra.

Ali estão pinturas como Pesadelo marinho, de 1998, que Ailton fez após uma viagem ao Japão e ouviu denúncia da pesca predatória dos oceanos. Festa na floresta, do mesmo ano, ele criou para a capa do livro Vozes da Floresta, sobre o seringueiro, sindicalista, ambientalista e ativista político brasileiro Chico Mendes e a história coletiva de resistência dos seringueiros.

Entre as representações pictóricas da fauna registradas pelos pincéis de Ailton, tem O tatu e Adorno de tatu, animal que ele admira pela sua resistência. Há figuras criadas por ele como Ókókân (coruja), composto por vários seres, outros animais e frutos. Em O rei dos macacos, pintura do fim da década de 1990, os primatas são convocados e celebrados em diferentes existências. Este desenho foi estampado na quarta capa de Vozes da Floresta.

As três caravelas é uma obra produzida por Ailton Krenak em 2000 para as comemorações dos 40 anos da Tropicália. As embarcações fazem referência à Santa Maria, Pinta e Niña, usadas por Cristóvão Colombo em sua viagem à América, em 1492. Por sua vez, Caboclo d’água é a ilustração que ele criou para a capa do álbum de mesmo nome do mineiro Tavinho Moura em 1991. Simboliza um ser híbrido e antropomórfico, que emite raios, como se fosse um cocar.

Pavãozinho da serra faz parte da série Bichos de papel, composta por desenhos feitos com pigmentos de plantas em papéis artesanais feito de palha de arroz e cana. Entre outras obras, encontra-se Morubiti, um ser das águas que ele criou em 1987, a partir de histórias ouvidas do povo Paiter Suruí, de Rondônia. Todas essas obras são acompanhadas de gravações de Ailton sobre elas.

No espaço há ainda uma série de seus cadernos com desenhos e poemas. Alguns são inspirados na forma poética japonesa haicai e, como é comum nesse estilo, são breves, ligam-se à natureza e registram um momento e uma percepção. Outros são mais longos, marcados pela sonoridade e pelas imagens.

A mostra também apresenta traduções de suas obras literárias, com destaque para Ideias para adiar o fim do mundo, para os idiomas coreano, sueco, francês e japonês. Livros como este e outros títulos, como A vida não é útil e Futuro ancestral, estão em um espaço acolhedor para que possam ser manuseados e lidos.

SERVIÇO:

Ocupação Ailton Krenak

Visitação: 4 de setembro de 2025 a 23 de novembro de 2025

Terça-feira a sábado, das 11h às 20h

Domingos e feriados das 11h às 19h

Piso Térreo

Concepção e realização: Itaú Cultural

Curadoria: equipe Itaú Cultural

Consultoria: Angela Pappiani e Rita Carelli

Projeto expográfico: Érica Pedrosa, Iago Germano, Rodrigo Auba (estag.), Sofia Gava

Consultoria Criativa: Moara Tupinambá e Ingrid Tupinambá

Projeto de acessibilidade: Itaú Cultural

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro

Entrada gratuita

Espaços acessíveis: o prédio do Itaú Cultural apresenta facilidades para pessoas com deficiência física.

Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

Matéria na íntegra: https://abcdoabc.com.br/ocupacao-ailton-krenak/

08/09/2025