Nesta terça-feira (2), entidades dos setores musical, jornalístico, editorial e literário estiveram em Brasília para entregar à Câmara dos Deputados solicitando proteção a autores e artistas no PL da Inteligência Artificial (IA), o Projeto de Lei 2338/2023 do Senado, que estabelece o marco regulatório para o uso da IA no país.
A proposta, já aprovada no Senado e em análise na Câmara, aborda o "desenvolvimento, o fomento e o uso ético e responsável" da IA no país. A carta propõe a inclusão de salvaguardas aos direitos de criadores e intérpretes de obras artísticas, intelectuais e produções protegidas, especialmente diante do avanço da IA generativa, estabelecendo ainda transparência no desenvolvimento e funcionamento dessas tecnologias.
A entrega da carta foi feita durante reunião na Câmara com os deputados membros da Comissão Especial sobre Inteligência Artificial. Entre as entidades signatárias do documento estavam a Academia Brasileira de Letras (ABL), o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a Câmara Brasileira do Livro (CBL), A Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Procure Saber, a Pro-Música Brasil, União Brasileira de Compositores (UBC) e a Associação Brasileira dos Direitos de Autores Visuais (AUTVIS).
O documento solicita a manutenção dos dispositivos entre os artigos 62 e 66 do texto atual do PL 2338/2023, para evitar perda de direitos de toda a classe artística. Outro ponto é que os titulares de direitos autorais tenham ciência e controle sobre o uso de suas obras no desenvolvimento de sistemas de IA, bem como garantias quanto à eventuais violações.
Leia a carta na íntegra:
"Excelentíssimos Senhores Deputados Federais Membros da Comissão Especial Sobre Inteligência Artificial
O PL 2338/2023, que passará a ser submetido à apreciação de V. Exas., foi fruto de criterioso estudo técnico realizado por comissão de especialistas e de amplo e democrático debate no Senado Federal, que culminou na apresentação de substitutivo da lavra do Senador Eduardo Gomes.
Vencida a fase de deliberação no Senado, agora caberá à Câmara dos Deputados exercer seu papel de instância revisora, dar continuidade à análise do referido projeto de lei, que versa sobre a regulamentação da Inteligência Artificial no Brasil. Diante da instalação dessa prestigiada Comissão Especial, as entidades que assinam a presente carta, representantes dos setores Musical, Jornalístico, Editorial e Literário, vêm manifestar e reiterar a importância da manutenção dos artigos 62 a 66, do PL 2338/2023, que versam sobre os conteúdos protegidos por direitos autorais.
A manutenção desses dispositivos é essencial para garantir a salvaguarda dos direitos intelectuais de milhares de criadores e intérpretes de obras artísticas, intelectuais, jornalísticas e produções protegidas, especialmente frente ao avanço dos sistemas de inteligência artificial generativa.
A proteção de obras, interpretações e produções tem sido um dos pilares nas normas internacionais de que tratam a matéria, valendo destacar o Ato Europeu da Inteligência Artificial, aprovado por toda a comunidade europeia, em linha com as demais normas da região adotadas para regular o funcionamento das plataformas digitais.
Reafirmamos que as criações humanas são os principais ativos e insumos para o desenvolvimento dos sistemas de inteligência artificial generativa. Assim, é imperiosa a necessidade de que os titulares de direitos autorais tenham conhecimento do uso de suas obras, interpretações e produções, que deverão ser identificadas e informadas aos seus detentores pelos sistemas de inteligência artificial generativa, e que as limitações e exceções propostas fiquem restritas às entidades de pesquisa, jornalismo, museus, arquivos, bibliotecas e educacionais, desde que sem fins lucrativos e em conformidade com os requisitos estabelecidos no artigo 63 e seus parágrafos, constantes do texto aprovado pelo Senado Federal no PL 2338/2023.
O Brasil tem a responsabilidade de alcançar um marco regulatório relativo à inteligência artificial, que promova a inovação, proteja a sociedade e resguarde os direitos autorais constitucionalmente assegurados aos criadores, intérpretes e suas obras. O projeto de lei em apreço busca conciliar os interesses de diversos setores da sociedade e, por isso, recebe o apoio das entidades signatárias, que seguem comprometidas com o contínuo aprimoramento da regulamentação em benefício dos titulares de obras e produções protegidas.
A aprovação pela Câmara dos Deputados do PL 2338/2023, contendo o modelo regulatório proposto para os direitos autorais da Seção IV do Capítulo X (Direitos de Autor e Conexos), será um importante e necessário marco para proteção aos direitos de criadores, intérpretes e titulares no desenvolvimento, treinamento e oferta de sistemas de inteligência artificial. Se algum ajuste coubesse, este deveria recair sobre o artigo 65, § 1º, II, que melhor adequado estaria se adotado o princípio do tratamento nacional como regime para proteção aos direitos autorais, em lugar das regras de reciprocidade propostas no texto vindo do Senado Federal.
Estamos à disposição de Vossas Excelências para participar das discussões que serão levadas a cabo por essa Comissão, oferecendo subsídios técnicos e jurídicos, que servirão para sustentar a presente manifestação, inequivocamente em linha com o ordenamento internacional e a necessária valorização da criatividade do gênio humano.
Renovamos, por fim, nossos protestos de elevada estima e consideração".
Matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/google/amp/cultura/noticia/2025/09/02/entidades-de-diferentes-setores-culturais-pedem-protecao-a-autores-e-artistas-no-pl-da-inteligencia-artificial.ghtml
03/09/2025