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Do trágikos à tragédia - A atualidade do trágico

 

Do ponto de vista histórico, o trágico sempre foi atual. Sua permanência na condição humana está e estará assegurada enquanto houver vida e morte na aventura de cada um de nós.

Lembremos o conceito do cômico e do trágico na concepção da filosofia e do teatro dos gregos. Comédia é a história que termina bem. Tragédia é a história que termina mal. Foi assim que Dante deu o título à sua comédia, pois sua viagem começou no inferno, passou pelo purgatório e terminou no paraíso. Logo, terminou bem. Foi realmente uma comédia que ele adjetivou de divina.


Se tivesse feito roteiro contrário, começando no paraíso e terminando no inferno, provavelmente seu poema teria outro título: A Divina Tragédia. Pode parecer um esquema simplista, como todos os esquemas. Mas assim é a condição humana, que independe das circunstâncias boas ou más, heróicas ou infamantes. E pior de sua tragédia é que nem mesmo a imortalidade seria solução para o sentimento trágico do mundo e de si mesmo. Pelo contrário: seria uma tragédia suplementar.


A única maneira de ludibriar o trágico de nossa condição é não esquentar a cabeça, cumprir o preceito de Horácio, curtir o dia de hoje e nada esperar do próximo, carpe diem, quam minime credule postero. Taí um tipo de tragédia pessoal e inofensiva: gastar o latim que aprendi e que de nada me serviu. Bem verdade que fiz um romance inspirado na casa do poeta trágico, casa que existe realmente, nas ruínas de Pompéia.


Há 2 mil anos que a casa está lá, mas ninguém sabe quem foi esse poeta trágico que a habitou. Só se sabe (e se vê até hoje) é que , à entrada da casa, tem um mosaico com a figura de um cão e o aviso: Cave canem.


Exatamente isso: cuidado com o cão.


Zero Hora (RS) 12/8/00