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Faixa de ouro

 

Há quem considere dramática a falta de assunto na mídia em geral. Evidente que há fatos e situações que merecem noticiário, comentário e até mesmo polêmica, como a lambança do PT e do governo, o que ocupa a mídia há mais de seis meses e, embora arrefecendo a cada dia, ainda dará caldo por outros tantos, pelo menos até a campanha eleitoral engrossar.

Desastres pessoais ou coletivos e crimes de repercussão também se desdobram, às vezes à exaustão. Dirão: a mídia não tem culpa, a realidade é assim mesmo, chata e, quando não é chata, é dramática. Que fazer?


Daí que me admira a facúndia com que, de tempos em tempos, se descobre um assunto que não é crime, tragédia, corrupção, doença de figuraço, polêmica sobre isso ou aquilo. Assuntos neutros, que não fedem nem cheiram, mas revelam a necessidade de manter "a sociedade informada".


Uma dessas informações à sociedade que rolou na semana passada foi a nova faixa presidencial, que terá não sei quantos fios de ouro e ornamentará o peito dos futuros presidentes.


Não tenho opinião formada sobre os adornos do poder. O papa anda vergado ao peso de paramentos e brocados. Reis e rainhas também. O imperador dom Pedro 2º era chamado de "papo de tucano", porque tinha um adorno em volta do pescoço feito com o papo de aves representativas de nossa fauna, inclusive o tucano.


Há gosto pra tudo. Quanto ao preço da nova faixa presidencial, reclamam que ela daria para comprar 5.000 e tantas cestas básicas. Considero esse tipo de economia um exagero demagógico. A faixa de ouro poderá ser vendida, um dia, valorizada talvez, para pagar nossa dívida externa, socorrer os desabrigados de um tsunami na Ásia ou ajudar a comprar o passe de Ronaldinho Gaúcho de volta ao Brasil.




Folha de São Paulo (São Paulo) 8/1/2006