Sem essa suspensão, nenhum filme ficará de pé. Em "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), como Marilyn Monroe pode não perceber que Jack Lemmon, disfarçado de mulher e espremido contra ela num beliche, é na verdade um homem? Em "West Side Story" (1961), Natalie Wood e Richard Beymer namoram aos sussurros na escada de incêndio para não acordar os pais dela e, de repente, desatam a cantar como na ópera. E, em "O Rei dos Reis" (1961), ao ver o Cristo vivido por Jeffrey Hunter pendurado na cruz de braços abertos, como não reparar em suas axilas perfeitamente depiladas? Era uma imposição de Hollywood, mas não parecia estranho um Cristo de sovacos tão glabros?
Em "O Bebê de Rosemary" (1968), o filme termina com Mia Farrow dando à luz o filho do Diabo. Como seria se a história continuasse? Ela amamentaria o bebê demoníaco? Teria de trocar-lhe as fraldas molhadas? Levá-lo-ia a passear de carrinho na praça? E, em "O Pecado Mora ao Lado" (1955), a mesma Marilyn se refresca com o vento que sai do buraco do metrô e levanta suas saias. Mas, pelo menos em Nova York, o vento do metrô é um bafo quente, que poderia até cozinhar suas intimidades.
Quem resumiu tudo foi o diretor John Ford. Quando lhe perguntaram por que, na infernal sequência da perseguição à diligência no deserto, em "No Tempo das Diligências" (1939), os índios não atiravam nos cavalos, Ford foi direto:
"Porque, se eles fizessem isso, o filme acabava."