
Os modernos anjos da guarda
Se há coisa que nos conforta é isso, a certeza de termos zelosos guardadores. E eles são muitos, ao menos em nossa infância
Se há coisa que nos conforta é isso, a certeza de termos zelosos guardadores. E eles são muitos, ao menos em nossa infância
Um grande amigo meu, músico famoso, comprou um apartamento térreo em Ipanema. Transformou o terraço, na parte de trás do apartamento, num jardim. As árvores cresceram e, com isso, as trepadeiras se espalharam. Na reunião do condomínio, disseram que as raízes podiam afetar a estrutura da construção e que as trepadeiras iriam enferrujar a grade divisória. Depois de dois anos de luta, meu amigo foi obrigado a destruir seu jardim e cimentar o terraço. Tempos depois, o síndico comentou com ele: “Na verdade, o problema não era bem o jardim. O que aconteceu foi que os outros moradores se sentiam bastante frustrados porque eles não tinham um igual. Preferem ver uma paisagem cinza da janela a um jardim que não é deles”.
Não é por acaso que o livro do acadêmico José Murilo de Carvalho sobre D. Pedro II - Ser ou não ser está tendo enorme repercussão, porque lançado num tempo de tanta corrupção, escândalos e mensalões, justamente o contrário daqueles anos do Segundo Reinado.
Há uma polêmica em curso e ela está tendo repercussão nacional, com várias pessoas, algumas muito conhecidas, manifestando-se através da mídia. A polêmica é: pode, ou deve, a ciência abrir mão de experiências com animais de laboratório?
Uma certa tarde, dois materialistas estavam sentados na beira de uma estrada, quando de repente passa um elefante voando, calmamente. Um dos materialistas não se vira para olhar para o outro porque, é claro, os elefantes não voam. Aquilo não poderia ter acontecido. Cinco minutos depois, passa outro elefante voando. Desta vez, os dois se olham, mas não comentam absolutamente nada. Talvez estejam sendo vítimas de alguma espécie de alucinação coletiva, ou coisa do gênero. Afinal, materialistas só acreditam no que sabem explicar. E aquilo eles não explicavam. Até que passa o terceiro elefante voando. Agora não dá mais para evitar. “Por acaso você viu os elefantes?”, pergunta um. O outro, com medo de parecer ridículo, concorda afirmativamente com a cabeça. “Mas tem uma explicação. O ninho deles é aqui perto”, conta o mais sábio. Pronto. Está explicado. Eles podem continuar sendo materialistas.
Grandes autores têm estudado o Brasil, para procurar entendê-lo. Não tem sido fácil. Deve-se lembrar a frase que se tornou livro de sucesso, de Roger Bastide, “O Brasil é um país de contrastes.”
Esse monstro ali estava, andando de mesa em mesa, fumando, esperando a reunião
ESTIVE em Fortaleza para uma feira de livro. Revivi lembranças do Ceará, principalmente da mocidade, nos Congressos de Escritores e de Poesia, no Grupo Clã e com velhos amigos intelectuais -muitos já se foram.
O mundo islâmico acaba de realizar em Tunis uma conferência inédita pelo seu vulto e suas interrogações quanto ao terrorismo contemporâneo, na ameaça ainda mal pressentida que impõe as noções convencionais de paz, ordem internacional ou vigência das instituições. De logo se definiu a visão de que os homens-bomba de agora ou os massacres repentinos, ou a selvageria da destruição sem volta, exorbitam da ação de grupos e vão hoje muito para além da Al-Qaeda. O horror é que não há um terrorismo oficial com que se poderiam negociar tréguas ou formas de detecção, na esteira das guerras frias, ou do jogo respectivo, dos preços a pagar pelo seu desarme.
O Salão Nacional do Jornalista Escritor, criado pela Associação Brasileira de Imprensa (e tocado pelo vice-presidente, o lendário Audálio Dantas), foi um êxito. Centenas de pessoas, em sua maioria estudantes universitários, compareceram no último fim de semana ao auditório do Memorial da América Latina, em São Paulo, em cujo palco sucederam-se nomes famosos no jornalismo e na literatura em nosso país: Luis Fernando Verissimo, Ruy Castro, Fernando Morais, Heródoto Barbeiro, Ricardo Kotscho, José Mindlin, Jaguar, Alberto Dines, Moacir Japiassu, Manuel Carlos Chaparro, Carlos Heitor Cony, José Nêumanne Pinto, Fernando Portela, Audálio Dantas, Mauro Santayana, Zuenir Ventura, Eric Nepomuceno, Antonio Torres, Flavio Tavares, Ziraldo, Ignácio de Loyola Brandão, José Hamilton Ribeiro, Mylton Severiano, Juca Kfouri, Caco Barcelos, Domingos Meirelles, Eliane Brum, Mino Carta... Lá estive também, e tentei não fazer feio.
Já confessei diversas vezes que nunca soube com quantos paus se faz uma canoa. Entre outras, é uma das minhas ignorâncias fundamentais. Nunca me preocupei com isso, ignoro compactamente qualquer tipo de construção naval, uma jangada ou um imenso navio de cruzeiro. Para mim são indiferentes, não sei nem pretendo aprender a fazê-los.
Quando escrevi “O diário de um mago”, não podia imaginar o sucesso que o livro ia fazer e coloquei o nome verdadeiro das pessoas que conheci ao longo do Caminho de Santiago. Tempos atrás, voltei a San Jean Pied-de-Port, onde vive Mme. Debrill, uma das personagens. Sabia que leitores brasileiros e holandeses a procuravam – e os detalhes que contei eram íntimos.
RIO DE JANEIRO - A Associação Brasileira de Imprensa iniciou as comemorações de seu centenário, e o Audálio Dantas, vice-presidente da entidade, realizou com sucesso o 1º Salão do Jornalista Escritor, no Memorial da América Latina, aí em São Paulo. De certa forma, todos os escritores se consideram jornalistas -eventualmente escrevem em jornais ou revistas, são membros de associações da classe e dos sindicatos.
A Assembléia Legislativa do RS teve um presidente, Carlos Santos, que era um grande deputado e que era negro. Como presidente da Assembléia, tinha direito a segurança: um brigadiano acompanhava-o sempre. Conta-se que um dia de manhã, muito cedo, Carlos Santos precisou registrar uma ocorrência na delegacia próxima à sua casa. Para lá se dirigiu, sempre escoltado pelo policial. Quando entrou, o delegado, que estava sentado à mesa, semi-adormecido, abriu os olhos e, não reconhecendo o deputado, resmungou: "Pô, negão, a essa hora da manhã tu já estás criando confusão!"
Este foi o título dado ao escritor português Miguel Torga (1907-1995), cujo centenário de nascimento estamos comemorando. Disseram-no intérprete do próprio chão em que nascera. Mas Torga teve também uma forte influência brasileira, pois viveu em Leopoldina, Zona da Mata mineira, dos 12 aos 18 anos, e ali escreveu os primeiros poemas, inspirados em Casimiro de Abreu.