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Artigos

  • Fratura social apavorante

    Estado de São Paulo em, em 02/02/2002

    Como já é do conhecimento comum, nas últimas décadas do século passado, sob a pressão das mudanças operadas no plano das idéias e dos processos tecnológicos, deu-se o que se convencionou chamar "revolução da mulher". Esta consistiu não apenas no acesso da mulher a postos de trabalho antes exercidos apenas por homens, como no surgimento de novas entidades familiares, como, por exemplo, a "união estável", criada pela Constituição de 1988.Ao lado desses fatos, ocorreu também uma queda relevante no plano moral, crecendo o número de pais que não hesitam em abandonar os filhos havidos no matrimônio e outras uniões familiares, quer para constituir outras, quer para fugir às responsabilidades que resultam da paternidade.

  • Meio-dia em Porto Alegre

    Jornal do Commercio em, em 01/02/2002

    É só vermos os jornais europeus, e a força da primeira página dos cotidianos franceses, para nos darmos conta do impacto que a reunião de Porto Alegre ora ganhou, muito para além das escaramuças do anti-Davos inicial, no ano passado. É quase como se invertessem as posições. A capital gaúcha parece dar o tom da temática de um primeiro encontro sobre o "que fazer" mundial, espicaçado pelo 11 de setembro, e pelos riscos que uma "civilização do medo" antepõe ao clássico confronto Norte-Sul e à oratória exangue dos ricos e pobres. Ou do palavreado fóssil com que os senhores do mundo debruçam-se sobre as ditas periferias, quando, hoje, uma subversão cultural nasce dos ossos da miséria e da exclusão sem volta.Os cenários se transportam. E é, sobretudo, como multibusca às saídas do neoliberalismo que vai à rinha a capital rio-grandense.

  • Horizonte infinito

    O Globo em, em 25/01/2002

    Estamos vivendo os tempos da chamada "rodada do milênio", cuja maior característica é a eliminação de barreiras de toda sorte. No mundo da educação, complexo e fascinante, busca-se uma solução global, com a escola multicultural de que carecemos. O comércio eletrônico está na pauta de todas as negociações da Organização Mundial do Comércio, e por uma razão objetiva: representou um movimento de 300 bilhões de dólares na virada do século.

  • Aqui me tens de regresso

    O GLOBO em, em 13/01/2002

    Tenho um fã aqui no Leblon, sobre quem só sei que o apelido é Gugu e que freqüenta botecos na Rua Humberto de Campos, e que, toda vez que me vê, junta as mãos, curva-se para a frente numa atitude de veneração meio oriental e o mínimo que faz é me chamar repetidamente de “mestre”. Às vezes ele também me beija as mãos. Trata-se de um homem meio careca, aparentando, acho eu, 40 e poucos anos. Pois bem, estou eu na Bartolomeu Mitre, aqui pertinho de casa, esperando um táxi passar, quando Gugu surgiu não sei de onde e começou a mesma rotina, só que desta vez com abraços e me beijando fervorosamente as mãos. Eu já tinha acenado para um táxi, que parou, e consegui fazer um sinal para o motorista para que ele esperasse que Gugu acabasse seus ritos de saudação. E Gugu, num rompante entusiástico, disse que não queria atrapalhar, porque estava vendo o táxi à minha espera e me tacou um beijo na bochecha. Agradeci atabalhoadamente, entrei no táxi e contrariando, como sempre faço, o lema de Henry Ford III ( never explain, never apologize - nunca explique, nunca peça desculpas), dei uma explicação ao motorista.

  • Machado e o realismo cético

    Tribuna da Imprensa em, em 09/01/2002

    Vive a literatura brasileira sob a inarredável presença de Machado de Assis, que nos empurra de um lado para outro, exige que o decifremos e analisemos, que o neguemos várias vezes antes de curvarmos a cabeça diante de sua força. Quem foi na realidade o Bruxo, de que maneira se apossou ele da inteligência e das emoções de um País? Conquistou um estilo que não se confunde com nenhum outro, compreendeu-nos como ninguém e até zombou de nós todos que vivemos neste vale de ciúmes.

  • A fábula do homem e seu garrafão

    Correio Braziliense em, em 07/01/2002

    Pelo interior do Brasil é comum a presença de um cara que é chamado de "propagandista". Aqui pelo estado do Rio, antes da camelotagem desenfreada, ele era chamado também de "camelô".

  • Leopold Senghor, o poeta do socialismo africano

    Tribuna da Imprensa em em, em 02/01/2002

    A morte de Leopold Senghor foi um dos maiores desfalques sofridos pela humanidade em 2001. Perdemos, com seu desaparecimento, o poeta e o estadista, mas também o pensador que lutou para tornar compreendidos os fundamentos ontológicos do pensamento africano.Professor, parlamentar (representou o Senegal no Congresso francês), criador de um país, intérprete de um povo, defensor de um socialismo africano, isto é, um socialismo que respeitasse a realidade e a "situação da África", na linha do que ele chamou de "humanismo negro-africano", tinha Senghor consciência de que o primeiro desafio, a que os africanos precisavam responder em nosso tempo, era o do idioma.

  • Medo de voar

    O GLOBO em, em 18/11/2001

    Admito que se pode rir de quase tudo, a depender da perspectiva que se tome, mas não tenho achado graça nenhuma nas piadas que, para citar somente um veículo, circulam na internet, com montagens, cartuns e frases espertinhas sobre as tragédias que vêm acontecendo nos Estados Unidos. E também tem gente me escrevendo com reprovação porque não fico dizendo “bem feito”, em relação aos americanos. Assumir uma postura crítica quanto, por exemplo, à política externa americana é uma coisa; aprovar a morte indiscriminada de inocentes, americanos ou não (ou até achar que não existem inocentes entre os americanos), é absolutamente outra coisa.

  • A esperança e o veto

    O GLOBO em, em 16/11/2001

    O Congresso votou lei que estabelece, nas escolas do ensino médio, a obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia, até agora matérias optativas ou objeto de experiências eventuais, assistemáticas, oscilando entre diferentes tendências e interesses da direção escolar aqui e ali, Brasil adentro. Divulgou a imprensa que algumas autoridades federais do ensino, favoráveis à inclusão da filosofia no currículo de nível médio, não aprovam, contudo, a extensão da medida ao ensino de sociologia . Era de crer que o professor Fernando Henrique Cardoso não vetasse a lei em tramitação. Mas vetou. A Presidência tem suas razões que a sociologia não entende... (que Sua Excelência, "aqui na terra" e o bom Pascal , "no Reino do Céu" me absolvam da paródia).

  • Uma luz no apagão

    O GLOBO,, em 13/07/2001

    Nestes dias em que a esperança escurece, dias de perplexidade e decepção, releio um ensaio daquele denso e avisado pensador Alberto de Seixas Martins Torres, que presidiu a sua província fluminense e honrou o Supremo Tribunal. Não me volto agora para os seus livros capitais, "A organização nacional" e "O problema nacional brasileiro", que por certo inspiraram, em 1930 ou 31, a fundação, no Rio, da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres (surgiu após a Sociedade dos Amigos de Marcel Proust, e desejo crer que não se tratasse de uma réplica retardatária do nosso grand monde carioca...).

  • Aqui jaz Pedro

    Jornal A Tarde - Salvador - BA,, em 13/06/2001

    Quando sirvo de cicerone a algum amigo brasileiro na visita à cripta basílica vaticana, tenho uma razão para deter-me com ele diante do túmulo de Pio XI (Ambrogio Damiano Achille Ratti). No dia 10 de fevereiro de 1939, adoecia e morria este papa quando Roma já estava repleta de bispos italianos. Eles o convocaram para um discurso que pronunciaria no dia seguinte, décimo aniversário da solução da Questão Romana com a criação do estado-Cidade do Vaticano e a promulgação do Pacto Lateranense entre este e o Estado Italiano. Dizia-se à boca pequena que o pontífice denunciaria e coordenaria certas lacerações do referido Pacto por obra de ninguém menos que Benito Mussolini.

  • O cão e o homem

    Folha de São Paulo - São Paulo - SP,, em 12/06/2001

    Já vi a mesma cena, aqui e no exterior. E acredito que todos nós já vimos coisa igual em qualquer parte do mundo.

  • A falta de energia

    Diário do Comércio – São Paulo – SP, em:, em 02/06/2001

    Não é só no Brasil que nos defrontamos, sem saber como resolvê-lo, com o problema de energia. A França resolveu, ao menos até agora, o problema, gerando energia em instalações nucleares. Cerca de 75% da energia consumida pelos franceses é produzida em geradores nucleares. Estes, sabe-se. Têm vida longa, mas não perpétua. O governo deve ficar atento para não ser colhido de surpresa, como está ocorrendo no Brasil, nestes dias de ameaça de apagão generalizado, pois no apagão já nos encontramos.

  • Carreira e carreirismo

    O GLOBO,, em 31/05/2001

    José Monteiro Soares Filho, homem de talento e aguda sensibilidade política, líder da UDN na Câmara - um dos poucos que Getúlio Vargas não deixava de temer - contava que um jovem bacharel recém-formado o procurara para pedir apoio à realização do sonho: a deputação estadual. Soares foi logo indagando: "Qual é a sua base no município?" O jovem era de Pádua, centro politicamente muito fértil, e não soube o que responder. Mas o mestre preencheu a ingenuidade do moço, aconselhando-o a ir convivendo com as pessoas e as instituições mais significativas da cidade, sem esquecer as microcomunidades distritais. Que se tornasse, em primeiro lugar, um estudioso do município, principalmente do seu torrão, enfronhando-se nos problemas capitais do meio urbano e do meio rural. Que auscultasse as "precisões" da cidade, como diria um dos chefes locais...