No sábado, 25 de outubro, aconteceu o lançamento duplo das duas versões da obra “Onde Moram os Tatus”, do editor do jornal O Progresso de Tatuí e escritor Ivan Camargo, no Complexo Cultural da Memória, que engloba o Museu da Imagem e do Som (MIS Tatuí) “Jornalista Renato Ferreira de Camargo” e o Memorial do Rugby 1928 “Dr. Gualter Nunes”.
Durante o evento, também foi realizada uma leitura dramática de parte do roteiro, em parceria com o Núcleo de Pesquisa [En]Cena, coordenada a partir de concepção criada por Rose Colina. Participaram da apresentação os atores Claudio Teles, Letícia Rodrigues e Guilherme Fontão, além do acompanhamento musical de Thaís Almeida.
O secretário-adjunto do Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, Rogério Vianna, falou sobre a importância do escritor para o cenário literário local. “Uma pessoa que expressa, por meio da linguagem literária, a sua forma de ver o mundo. Quem ainda não conhece terá a honra de conhecer (pois esta é a segunda edição) a obra, e vocês podem se enriquecer com ‘Assombrações Caipiras’, ‘Golpe Baixo’ e outras literaturas provenientes da obra intelectual de Camargo, que é importante conhecermos”, declarou.
Vianna também lembrou do trabalho de dramaturgia do autor, que teve a peça “Até que a Morte Nos Enlace” encenada em Tatuí no mês setembro.
“Um trabalho magnífico, que circulou pelo estado de São Paulo, por meio do Proac”. Ainda citou “Cativeiro”, outro texto de Camargo, “do qual tive o prazer de participar em 2014, dirigido por Carlos Ribeiro, pela Companhia de Teatro do Conservatório de Tatuí”, complementou.
“As riquezas são as pessoas da nossa cidade. Estamos caminhando rumo aos 200 anos, e esses 200 anos têm que ser marcados pelas pessoas que fizeram e pelas pessoas que fazem”, acentuou o secretário-adjunto.
O autor agradeceu o apoio de Vianna e afirmou que, quando uma ação cultural se “desdobra”, ela se transforma em um “fluxo de criação”. “Quando lancei esse livro, em 2008, ele começou em uma conversa de bar, quando, com amigos, falávamos sobre a vergonha de ser caipira. Isso nos incomodava, e sentimos que precisávamos fazer alguma coisa, pois são nossas origens. Você só não tem orgulho do que é quando não conhece, e ser caipira é também respeitar nossos pais, avós e bisavós”, explicou.
A O Progresso de Tatuí, o secretário do Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, Douglas Dalmatti Alves Lima (Buko), afirmou que a vocação para a literatura “está na alma da cidade”. “Sempre falamos de Paulo Setúbal, que é imortalizado na Academia Brasileira de Letras. Hoje, a prática da leitura tem diminuído por causa da tecnologia; as crianças não procuram mais livros. Quando colocamos pessoas do próprio município produzindo literatura, conseguimos, talvez, um convencimento maior para que as pessoas voltem a ler, porque é um produto da nossa cidade”, observou.
“É claro que ele vai desbravar outros espaços. A ideia da literatura é exatamente essa. Como foi apresentado aqui hoje, até um roteiro para filme foi criado a partir desse livro. Isso é muito legal, porque a história transcende”, acrescentou.
“O nosso papel, como poder público, é exatamente incentivar. Temos muitos bons escritores na cidade, e nosso dever é fazer com que esses livros sejam publicados e cheguem às prateleiras, fomentando o que Tatuí sempre fez muito bem e para o que tem vocação”, enfatizou Buko.
Sobre o tema do livro, que também visa resgatar “o valor de ser caipira”, o secretário reconheceu ser “essa a essência”. “Hoje, as pessoas, às vezes, têm vergonha de dizer que são caipiras, que moram no interior, do sotaque… Mas, temos que ter orgulho de onde estamos. Temos que ter orgulho da nossa terra. É daqui que vivemos, crescemos e onde nossas famílias estão”, defendeu.
“Isso é muito legal, e a narrativa que o [En]Cena trouxe foi divertida e autêntica. A gente se diverte escutando as prosas, que são as características do povo do interior”, observou Buko.
O secretário informou que a obra fora publicada por meio do edital municipal Publicação de Livros, que já está sendo preparado para ser reaberto em 2026.
“Esse é um edital que não morre mais. Todo ano fazemos questão de mantê-lo como herança para a cidade. Que as próximas gestões não percam essa iniciativa. É importante que sejam escritores do município, para que esse trabalho ganhe força”, ressaltou.
“Não se trata de desvalorizar quem não é da cidade, mas temos a obrigação de valorizar quem é nosso. É um projeto da secretaria, junto com o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior, para fomentar os escritores locais de forma contínua”, completou.
Posteriormente, Vianna também comentou sobre a importância de o município ter um acadêmico imortalizado na Academia Brasileira de Letras, “um grande expoente, que influenciou gerações de escritores”.
“Falamos de Maurício Loureiro Gama, que escrevia, inclusive, para o jornal O Progresso de Tatuí, de Raul Vallerini, José Ortiz de Camargo e Cristina Siqueira, que era colunista e hoje é poetisa. A cidade cresce em torno das letras”, sustentou.
“É importante olhar e fazer diagnósticos. Percebemos que, inclusive, os jovens estão tomando gosto pelas letras, olhando para a literatura e se expressando por meio dessa linguagem”, continuou Vianna.
“É extremamente importante ver o desenvolvimento cada vez mais potente do Ivan Camargo, que é escritor, redator, teatrólogo e dramaturgo. Precisamos acentuar isso na cidade, pois muitas pessoas têm vocação, mas não sabem como começar ou aonde chegar”, opinou.
Vianna citou, ainda, o jovem Brian Pietro Telles Coelho, vencedor do concurso de Publicação de Livros deste ano. “Ele é um rapaz de 13 anos, estudante do ‘Chico Pereira’, com vocação, mas sem saber como desenvolver um livro. A Cristina (Siqueira) o apadrinhou e está ajudando e assessorando nesse processo. Fomentar a literatura é estritamente necessário para a nossa cidade”, destacou.
O secretário-adjunto explicou que os autores ou futuros autores que desejam ver seus livros publicados não precisam ter a obra pronta no momento da inscrição.
“Na verdade, o participante deve apresentar um projeto do livro e tem 12 meses para executá-lo, podendo pedir prorrogação. Sabemos que a publicação depende de editoras. Então, concedemos prazos maiores justamente por isso. A pessoa escreve o projeto, a ideia, e depois pode desenvolvê-lo”, esclareceu.
“Ter a ideia do livro já é muito valioso, pois ela pode ser apresentada no edital. Normalmente, abrimos as inscrições entre janeiro e fevereiro, e o vencedor tem tempo para desenvolver o projeto e planejar a publicação”, completou.
Sobre o resgate do “orgulho caipira”, Vianna considerou a iniciativa essencial. “Tanto é que estamos trabalhando com a nova expografia do Museu Histórico ‘Paulo Setúbal’, ouvindo a população e suas necessidades, e percebemos que o caipira é um personagem protagonista da nossa terra”, afirmou.
“A expografia anterior do museu não falava do caipira, apenas do tropeiro, que é um personagem nacional. O caipira, que é nosso, não aparecia, mas agora vai aparecer. Estamos pesquisando e trabalhando nisso. O plano museológico é o mesmo instituído em 2009, mas trará novidades. Não tiraremos os tropeiros, mas incluiremos o caipira”, explicou.
“Quando o autor (Camargo) traz essa temática, ele traz também a nossa cultura, e isso faz toda a diferença, porque conquistamos pelo modo de ser e pela ternura do nosso jeito caipira”, finalizou.
Já o autor, sobre o sentimento ao assistir à encenação feita pelo Núcleo [En]Cena, afirmou ter sido “uma deliciosa surpresa”. “Gostei muito do recorte e da adaptação de partes da história. Agradeço demais ao grupo pelo empenho e talento dedicados a esse trabalho, que soube ser tão sensível quanto engraçado”, declarou.
Sobre a importância dos editais culturais e dos incentivos à literatura vindos do poder público, Camargo opinou: “Já eram fundamentais antes; agora, quando há uma disputa desigual com as telas, são questões de sobrevivência — não só da literatura e das artes, mas da própria identidade local, regional e nacional”.
“Isso é ainda mais evidente quando observamos os jovens, levados a uma espécie de novo analfabetismo, com a superficialidade e a forma abreviada com que se manifestam e consomem conteúdo nas redes sociais”, acrescentou.
“O contrário disso é cultura. E, só por aí, já se vê o tamanho do problema na contemporaneidade, pois, ao se falar a palavra ‘cultura’, muitos já torcem o nariz. O que esperar do futuro diante disso? Só resta incentivar o contrário — e é isso que os editais têm feito. Ainda bem!”, concluiu.
Sobre os livros
Uma das versões da obra corresponde à segunda edição do livro, e a outra, à adaptação da obra para roteiro cinematográfico. Ambas as publicações acontecem por meio de programas de incentivo à cultura.
O romance, cuja primeira edição estava esgotada, foi republicado graças ao edital Publicação de Livros (2024), do Museu Histórico “Paulo Setúbal”, realizado pela prefeitura, por meio da Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo e Lazer.
Já a versão audiovisual — também assinada por Camargo — é resultado de projeto apresentado pela produtora Juliana Michelle Jardim, por meio da Lei Paulo Gustavo, do governo federal, executada no município pela prefeitura, em edital de 2023.
Conforme o autor, o enredo do livro parte de causos caipiras que os tatuianos — como a população de praticamente todo o interior paulista — costumam ouvir desde crianças.
“Neste caso, até pela natureza do texto, que é de humor, busquei considerar os mais engraçados e ‘safados’. Mas, claro, todos servem de inspiração, não sendo necessariamente transcritos. Importa a estrutura deles, sempre com desfechos jocosos”, explicou.
Camargo contou que a ideia de mostrar “que não é vergonhoso ser caipira” surgiu em conversas com amigos, especialmente com Jaime Pinheiro, professor, cenógrafo e artista plástico.
“Observamos que essa vergonha advinha simplesmente da ignorância sobre a própria história. Daí o sentimento de obrigação de fazer algo a respeito, por menor que fosse. No meu caso, escrever”, lembrou.
Sobre como surgiu a ideia da versão audiovisual, o autor argumentou que a estrutura dos causos caipiras é essencialmente visual, “cinematográfica por natureza”. “A possibilidade surgiu a partir da Lei Paulo Gustavo, justamente de incentivo ao audiovisual. Foi uma feliz coincidência”, relatou.
“Seria fantástico se, um dia, alguma grande produtora ou profissional do cinema viesse a se interessar por esse roteiro. Mas isso já é outra história. Por enquanto, fico satisfeito em estar concretizando um primeiro passo nesse caminho”, completou.
Os interessados em ler a obra podem emprestá-la na Biblioteca Municipal “Brigadeiro Jordão” e, posteriormente, no Museu Histórico “Paulo Setúbal”. Para aquisição, o livro está disponível no site do autor (www.ivancamargo.com.br). Já a leitura dramática pode ser vista no canal do Youtube do jornal O Progresso de Tatuí (https://youtu.be/5fx1O86dJ0Q) e no do Museu Histórico “Paulo Setúbal”.
A versão em roteiro tem como objetivo a distribuição dirigida a profissionais da área audiovisual, tanto de Tatuí quanto de outras regiões do país. “Trata-se, na prática, de um cartão de visitas da nossa cidade em um formato diferente, levando uma história que busca transformar nossos causos caipiras em motivo de alegria e orgulho não apenas local, mas nacional”, finalizou.
Sinopse
Lançado em 2008, “Onde Moram os Tatus” é um romance que, basicamente, resgata com humor as raízes do estado de São Paulo.
Uma lendária estrada indígena, a pioneira fábrica de ferro do Brasil e a ousadia épica dos tropeiros formam o cenário do romance, ambientado na metade do século 19. A história acontece ao longo da chamada “Rota do Muar”, que ligava o Rio Grande do Sul ao interior de São Paulo, aproveitando-se, em seu traçado, de diversas ramificações da lendária estrada indígena conhecida como “Peabiru”.
Em particular, o enredo transcorre na região de Sorocaba, onde havia o maior mercado de muares dos séculos 18 e 19. Outro ponto a permear o romance é a fundação, apogeu e declínio da fábrica de ferro de Ipanema, a primeira do país.
O texto é essencialmente ficcional, mas, ainda assim, utiliza-se de fatos folclóricos, como a “lenda” do Xiru-Gato (o bugre assaltante e assassino de tropeiros), “resgatado” como o matador de tropeiros tatuianos na Rota do Muar.
Apesar da base verídica, o texto não é histórico, muito menos didático. Com cada um de seus intertítulos encerrando na forma de um “causo”, com desfecho jocoso, o livro é basicamente de humor. Seu compromisso, tal como nas narrativas caipiras, é com a ficção, com a invenção, com a “lorota”.
Assim, o leitor conhece uma antiga e tradicional comunidade do interior, com seus tropeiros, índios, coronéis, capangas, escravos, imigrantes, benzedeiros, prostitutas e até um muar falante…
Enfim, “Onde Moram os Tatus”!
Matéria na íntegra: https://oprogressodetatui.com.br/ivan-camargo-apresenta-2a-edicao-de-romance-e-versao-para-audiovisual/
04/11/2025