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A tolice e o crime

 

Mais uma distorção do atual governo. Dando prioridade à economia, continua tratando o social de forma secundária, dando e tirando verbas ao sabor de uma demagogia eleitoreira (para 2006) e reforçando o caixa para apresentar índices com que os nossos guarda-livros provocam elogios aqui e no exterior.


Semana passada, Lula retirou verbas da Saúde para aumentar o orçamento do Bolsa-Família. Ninguém negará a necessidade deste programa, bem como o de seu irmão mais velho, o Fome Zero. Acontece que ambos deveriam ser da alçada da iniciativa privada, fomentada e sobretudo rastreada pelo governo. Seria o caso da ajuda que a sociedade presta quando há calamidades públicas, no Brasil e no mundo inteiro, mandando cobertores, medicamentos, alimentos etc.


Ao governo compete acabar com a fome, mas não à custa de vales ou doação de comida. Sua obrigação é criar e desenvolver uma estrutura de produção, distribuição e preço que coloque comida no prato de cada brasileiro. Isso foi conseguido na China e em outros países que enfrentaram o desafio da fome, promovendo a reforma agrária de verdade, e não o simulacro dos assentamentos sem a logística complementar da tecnologia adequada e dos financiamentos complementares. Tal como vem sendo executado, o Fome Zero está criando mais problemas do que soluções.


O Bolsa Família fica no mesmo caso. É mais uma tolice do que um crime tirar verbas da Saúde para um programa de aplicação problemática e de resultado discutível. Ainda mais quando entra pelos olhos de qualquer um que a Saúde, por falta de verbas e prioridade, está longe de resolver as necessidades mais prementes de um dos dois setores básicos de uma nação que pretende ser justa. (O outro setor é o da educação, que sofre do mesmo mal: não recebe regularmente as verbas destinadas pelo Orçamento votado no Congresso e sancionado pelo próprio governo.)


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 07/03/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 07/03/2005