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ABL na mídia - Estado de Minas - Ana Maria Gonçalves fala sobre a herança deixada pelos livros em sua vida

 

Paracatu - A escritora mineira Ana Maria Gonçalves foi a grande homenageada na noite de abertura do Flipacaratu, festival literário iniciado na quarta-feira (27/8) e que segue até domingo (31) na cidade do noroeste de Minas.

Na primeira mesa de autores, a autora, recém-empossada na Academia Brasileira de Letras (ABL), sendo a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na instituição, conversou sobre "palavra-herança" junto dos também escritores Bianca Santana e Marcelino Freire.

Ana Maria contou que a a herança deixada pela literatura na sua vida remonta à infância, em Ibiá, cidade onde nasceu, no Triângulo Mineiro. Lá teve os livros como seus “óculos de Miguilim” - referência à história “Manuelzão e Miguilim”, de Guimarães Rosa, na qual um menino míope passou a enxergar o mundo ao colocar os óculos de um médico.

“O nome 'Ibiá' quer dizer montanhas e cabeceiras altas. É uma cidade no meio de um vale, cercada de montanhas. E a literatura foi o que me fez enxergar para além daquelas montanhas. Eu era uma criança que queria ver o que estava para lá trás”, relatou na conversa.

Agora é a escritora que passa por experiência parecida, deixando uma herança singular na literatura brasileira. O romance “Um defeito de cor” (2006) foi eleito recentemente por uma enquete da Folha de S. Paulo como o melhor livro de literatura brasileira do século 21, semanas antes de Ana Maria ter se tornado a primeira mulher negra a integrar a ABL em seus 128 anos de história. A obra retrata a vida de uma ex-escravizada africana que retorna ao continente natal após ter vivido experiências traumáticas no Brasil.

Quando publicou o livro, aos 35 anos de idade, Ana Maria havia passado há poucos anos por uma experiência marcante em sua vida, na qual, aos 29 anos, escreveu uma espécie de carta testamento detalhando o que construído até então. “Ao ler o meu próprio obituário, eu falei que não era essa a herança que eu quero deixar no mundo. Pensei em fazer algo diferente para honrar o ar que eu respiro”, desabafou.

Anos depois, a escritora lançou “Um defeito de cor”. Nas décadas seguintes, prosseguiu em sua luta antirracista e na promoção de discussões raciais. “Eu espero que seja a literatura (essa herança), porque eu larguei tudo que eu tinha, imaginando uma nova forma que justificasse estar aqui vivendo”.

Ana Maria Gonçalves estará presente em outras programações do festival nos próximos dias. No sábado, às 21h, a escritora participa da roda de conversas "Um defeito de desumanização" junto do escritor português Valter Hugo Mãe, outro homenageado pelo Fliparacatu, e mediada por Afonso Borges. Na sequência, às 22h, os homenageados farão uma sessão de autógrafos.

Fliparacatu

O Fliparacatu segue até domingo - e, ao longo dos dias, o Estado de Minas vai publicar entrevistas com autores convidados e matérias com discussões sobre literatura e assuntos debatidos no festival. O tema da edição deste ano do Fliparacatu é “Literatura, encruzilhada e desumanização”, conceito que estará presente em debates ao longo da programação.

O idealizador do evento, Afonso Borges, também presidente do Fliaraxá, do Flitabira e do Flipetrópolis, conta que o tema se relaciona com o livro “A desumanização”, do escritor português Valter Hugo Mãe, o segundo homenageado pelo Fliparacatu. “Eu tenho esperança de que, se as pessoas refletirem sobre o que vivem, o que se passa na história do Brasil e do mundo hoje, as coisas podem mudar”, reflete Afonso.

A abertura do Fliparacatu ocorreu com uma mesa de conversa dos professores Alexandre de Oliveira Gama, Kassius Kennedy e Daniela Prado, do jornalista Murilo Caldas e do escritor Adriles Ulhoa. Antes, houve o corte da faixa de abertura do festival.

O Festival Literário de Paracatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Federal de Incentivo à Cultura. A curadoria é de Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches, além de Leo Cunha, no campo infantojuvenil, e Dani Prado, na programação local. Todas as mesas de discussão serão transmitidas em tempo real pelo canal do Fliparacatu no YouTube.

Matéria na íntegra: https://www.em.com.br/cultura/2025/08/7236848-ana-maria-goncalves-fala-sobre-a-heranca-deixada-pelos-livros-em-sua-vida.html

02/09/2025