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ABL na mídia - Life In A Day - Próxima capital mundial do livro, Rio investe em rede de bibliotecas públicas

 

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– As bibliotecas trabalham para promover o conhecimento, e as bibliotecas públicas têm um importante papel social porque incluem as classes menos favorecidas e democratizam o acesso à informação e à cultura – atesta o jornalista e escritor Merval Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL).

A rede municipal, composta por 17 unidades, está em processo de reabilitação no âmbito do programa Bibliotecas do Amanhã, gerido pelo Ministério da Cultura do município. Juntamente com as quatro bibliotecas administradas pelo governo estadual e as três bibliotecas federais – incluindo a Biblioteca Nacional – formam um grupo de 24 instituições administradas diretamente pelo poder público do Rio.

Rio será Capital Mundial do Livro em 2025

Atenção volta-se para bibliotecas municipais

A relação entre o número de bibliotecas públicas e a população, com base no censo de 2022 do IBGE, é de um para 258 mil moradores do Rio. O cálculo não leva em consideração os acervos de instituições privadas, mesmo abertas ao público em geral, nem de bibliotecas comunitárias e escolares. Com base nos últimos dados disponibilizados pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, de fevereiro de 2023, a proporção em São Paulo é de um para cada 212 mil habitantes de São Paulo. A taxa nacional é melhor: uma para cada 45 mil brasileiros.

Em todo o mundo, a comparação com outras grandes cidades também não ajuda. O Rio tem 0,4 bibliotecas públicas para cada 100 mil habitantes. Na classificação de 35 cidades elaborada pelo Fórum Cultural das Cidades Mundiais, Varsóvia se destaca com nota 11,98, Seul com nota 11,4 e Bruxelas com nota 10. Paris (8) e Nova York (2,4) também lideram nós. Do Brasil, estão incluídos São Paulo (1,34) e Brasília (1). Se o Rio estivesse na lista, o Rio estaria à frente de quatro cidades, incluindo Istambul (0,3) e Lagos (0,1).

Se a quantidade não é a ideal, a solução é investir na qualidade. Em geral, as bibliotecas públicas municipais estão bem conservadas e equipadas, especialmente porque a maioria delas passou recentemente por modernização de instalações e acervos. Dois foram entregues em dezembro – para Milton Santos, em Jacarepaguá, e para José de Alencar, em Santa Teresa.

A Biblioteca Municipal Cecília Meirelles, também localizada em Jacarepaguá, tem previsão de retomar suas atividades no segundo semestre de 2025, após sua completa reabilitação, e funciona em novo endereço, ao lado do Centro Cultural Municipal Professor della Silvia de Sá, na Praça Seca. A Biblioteca Municipal João do Rio, em Irajá, é outra biblioteca que será atualizada.

Juntas, as unidades municipais atraíram pouco mais de 90 mil leitores de janeiro a novembro do ano passado. Apesar do número crescente – eram 60 mil em 2023, 38 mil em 2022 – o tamanho ainda é pequeno se comparado a uma população de mais de 6,2 milhões.

A rede governamental estadual da cidade reúne a Biblioteca do Parque Estadual, no centro, a Biblioteca do Parque Manguinhos, a Biblioteca do Parque Rocinha e a Biblioteca Estadual Tio Jair da Mangueira. O primeiro, o maior deles, fica na Avenida Presidente Vargas, tem um acervo de quase 200 mil títulos e atrai em média 5,5 mil leitores por mês. Próximo à Central do Brasil, recebe um público bastante diversificado, incluindo moradores de rua, estudantes e pesquisadores.

Porto seguro. Com um enorme acervo e um amplo espaço, a Biblioteca do Parque Estadual, localizada na Avenida Presidente Vargas, recebe um público diversificado, incluindo estudantes, pesquisadores e moradores de rua.

— O conceito da Biblioteca Parque Estadual visa atrair leitores e não se trata apenas de ser uma biblioteca. É um espaço onde são realizadas oficinas, apresentações teatrais, seminários e outros eventos relacionados ao livro, explica Gabriel Salabert, supervisor de leitura e conhecimento da Secretaria de Cultura do estado.

Um dos visitantes mais frequentes é José Carlos da Silva, 51 anos, soldado reformado do Exército. Morador do Santo Cristo, que costuma frequentar o local várias vezes por semana, ele já é um velho conhecido do pessoal e afirma ter lido mais de três mil livros.

– Desde que aprendi a ler, aos quatro anos, não parei. “Venho aqui quase todos os dias e fico pelo menos duas horas”, diz José, que não tem predileto. “Até leio bulas de remédios”.

No âmbito federal, a Fundação Biblioteca Nacional reúne, além da própria biblioteca criada por Dom João VI em 1810, a Casa da Litura, em Laranjeiras, e a Biblioteca de Euclides da Cunha, na Cidade Nova.

Maior biblioteca da América Latina e uma das dez maiores do mundo neste setor, a Biblioteca Nacional tem uma natureza única: sua missão é coletar, registrar, proteger e dar acesso à produção intelectual brasileira. Seu acervo é estimado em cerca de dez milhões de peças de livros, mapas, manuscritos e obras raras. A Fundação também mantém 14 coleções consideradas Memória do Mundo pela UNESCO.

— A Biblioteca Nacional é um marco rigoroso e de extrema importância do lugar da biblioteca no imaginário brasileiro, uma superpotência reconhecida aqui e no mundo. Está comprometido com a memória e é público no sentido de que é aberto. Marco Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional e membro da Liga dos Bancos do Líbano, disse que as bibliotecas hoje têm um papel de liderança, pois são o verdadeiro pulmão da democracia, especialmente quando começamos a pensar nas bibliotecas comunitárias, que desempenham um papel essencial papel.

Grande parte do acervo da Biblioteca Nacional está disponível com apenas um clique. Através do projeto BNDigital é possível consultar três milhões de documentos. Só no ano passado foram quase 85 milhões de visitas. Mas as portas do espaço físico continuam abertas para quem quiser entrar. Tem muita gente interessada. Seja para visitar o prédio histórico, de 1910, na Cinelândia, que atraiu 106.888 visitantes em 2024, ou para pesquisar, com 11.266 visitas no mesmo período.

-Há obras que só existem aqui. “Na minha pesquisa é sempre uma parada obrigatória”, diz Fernando Lacerda, pesquisador da Universidade Federal do Pará, enquanto folheia e fotografa cuidadosamente um exemplar do século XVIII em busca de material para sua pesquisa sobre música religiosa no Brasil.

Outras portas de acesso aos livros, além das bibliotecas, são as escolas. Das 1.557 unidades da rede municipal, 1.017 unidades estão equipadas com salas de leitura. Das 279 escolas públicas da capital, 84% possuem esse tipo de espaço. Completando esse “ecossistema” de conhecimento estão as bibliotecas comunitárias, criadas por iniciativas isoladas ou ONGs. Como exemplo de sucesso, o Projeto Favelvro já instalou 49 bibliotecas em comunidades cariocas, como Vila Kennedy, Barrera do Vasco e Chapeu Manguera.

A Favelvro trabalha para democratizar o acesso aos livros, colocando a biblioteca perto de onde o leitor mora, afirma a professora de língua portuguesa Verônica Marcilho, que criou o movimento em 2012 com o amigo Demzio Batista.

Edital da Câmara Municipal seleciona 20 bibliotecas comunitárias, cada uma delas receberá R$ 200 mil para investimentos em infraestrutura e acervos. Além disso, até o final do mês, a Secretaria Municipal da Cultura receberá inscrições para três editais no âmbito da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB): “Viva o Talento Rio Capital Edição Mundial do Livro”, com orçamento de R$ 700 mil para projetos que proponham atividades literárias em espaços públicos, “Feiras Literárias” e “Rio de Escritores”, com recursos de R$ 1 milhão e R$ 600 mil respectivamente.

Algumas bibliotecas, por si só, adotam iniciativas para atrair leitores. Por exemplo, o escritório de Irajá criou um “Pegue e Leve”, onde os livros doados que não vão para o acervo ficam expostos em uma mesa logo na entrada da unidade. Há de tudo, desde livros educacionais a romances, livros históricos e livros de não ficção. Para manter uma cópia, basta escrever o nome no livro de registro para fins de monitoramento.

A unidade, que leva esse nome em homenagem ao jornalista e escritor João do Río, contém um acervo de cerca de 10 mil títulos e foi a primeira da rede a ter um prédio construído com a finalidade de abrigar uma biblioteca. De janeiro a novembro do ano passado, 17.589 leitores o visitaram. Os autores mais populares incluem Nora Roberts, Augusto Curie e Itamar Vieira Jr., cujo último livro, “Salve o Fogo”, faz parte da coleção.

A Biblioteca Municipal Anita Puerto Martins de Río Comprido foi inaugurada em 2016 e ocupa um prédio bem conservado de dois andares. Possui estante com obras exclusivas de autores negros e espaço de estudo refrigerado com tomadas que podem ser utilizadas para carregar celulares e laptops.

Há um espaço para troca de livros no local. Uma vez por semana, alguns exemplares doados que não entram no acervo são disponibilizados aos moradores na calçada. O prazo de empréstimo é de 15 dias, mas durante as férias escolares é estendido para um mês, permitindo o empréstimo de no máximo dois exemplares por vez. São cinco mil livros à disposição dos leitores.

A biblioteca municipal Machado de Asis, em Botafogo, reabriu no início de julho, após quatro anos fechada. A unidade passou por processo de modernização e reabilitação. O acervo renovado passa a contar com cinco mil livros para consulta e empréstimo gratuitos, e o local conta ainda com sala de reuniões, sala de informática, espaço infantil e espaço dedicado à arte, ciência e tecnologia. As salas polivalentes, destinadas a cursos e workshops, estão temporariamente fora de uso devido a reparos no telhado, segundo funcionários. O espaço hoje é administrado pelo Sesc.

Também em meados do ano passado, a Secretaria Municipal da Cultura inaugurou a Biblioteca Municipal Lúcio Rangel, no Centro Musical Artur da Tavola, na Tijuca. O espaço contém mais de três mil livros sobre música brasileira e jazz, e guarda parte do acervo do jornalista e crítico musical Lúcio Rangel, que apresentou Tom Jobim e Vinicius de Moraes. O material foi doado pela filha da jornalista Maria Lúcia Rangel.

Com cerca de dois mil livros, entre literatura brasileira e estrangeira, literatura infantil, ciências sociais, artes e educação, a Biblioteca Municipal Jorge Amado, no Complexo da Mare, possui um arquivo mais infantil e toda a equipe é formada por moradores do comunidade. A unidade vizinha à Arinha Herbert Viana, administrada em sistema de cogestão pela Redes da Maré, tem um grande público entre 4 e 12 anos.

– É importante garantir o acesso aos livros desde muito cedo. As crianças às vezes chegam aqui com dificuldade de leitura, e esse espaço ajuda muito nas atividades lúdicas – afirma a bibliotecária Sandra Santos.

Matéria na íntegra: https://lifeinaday.pt/local/proxima-capital-mundial-do-livro-rio-investe-em-rede-de-bibliotecas-publicas/18713/

13/01/2025