A Universidade das Quebradas, projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), celebrou nesta terça-feira (14) a formatura de mais uma turma e oficializou uma parceria inédita com a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Criada em 2009, a iniciativa já formou mais de 500 escritores e tem como missão promover o encontro entre saberes acadêmicos e populares, com foco na diversidade e na valorização das vozes das periferias.
A cerimônia, realizada na sede da ABL, no Centro do Rio, também marcou o lançamento do livro Suassuna Quebradeiro, que reúne 46 textos produzidos pelos alunos ao longo dos seis meses de curso.
A obra propõe uma conversa entre o universo do escritor Ariano Suassuna e histórias que poderiam se passar nas quebradas do Rio de Janeiro. São contos, poesias e até uma peça de teatro, escritos individualmente e em grupo.
"A proposta é trocar saberes e não ensinar alguma coisa. A gente ensina muito pouco e aprende muito mais com esses quebradeiros e quebradeiras”, afirmou Drica Madeira, coordenadora pedagógica do projeto.
Heloísa Teixeira presente
A formatura foi a primeira realizada após a morte da escritora Heloísa Teixeira, em março. Imortal da ABL, ela foi uma das fundadoras da Universidade das Quebradas, ao lado da artista e escritora Numa Ciro.
Heloísa foi lembrada diversas vezes durante a cerimônia. “Heloísa, presente!”, ecoou entre os participantes.
Entre os formandos estão jovens que descobriram a literatura ainda na infância e autores com trajetória acadêmica consolidada, como Wagner Bezerra, mestre e doutor em comunicação.
"Muitas vezes nós nos afastamos dessa essência de quebrada, que usa a tecnologia mais poderosa de todas, que é saber ouvir”, disse ele.
Durante o curso, os alunos têm aulas com grandes nomes da literatura e da cultura brasileira. Esta turma, por exemplo, participou de encontros com Gilberto Gil.
A escritora Ana Maria Gonçalves, primeira mulher negra eleita para a ABL, também esteve presente e celebrou a parceria.
"As vozes da periferia vêm para agregar, vêm para constituir exatamente o que a gente acha que deve ser uma literatura nacional, que é formada por todas as vozes e experiências", afirmou.
A cerimônia não representou o encerramento de um ciclo, mas o início de novas trajetórias literárias.
"Escritores eles já eram né. Acho que eles saem daqui com muito mais repertório pra negociar o que eles sabem e o que eles são com a autoridade da ABL e com a autoridade da UFRJ. Essa talves seja a importância pra eles”, concluiu Drica Madeira.