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Divagações espaciais

 

Em teoria, a cada ano que se inicia, a Terra está no mesmo ponto espacial do ano que acabou e de todos os demais anos. O nosso planeta deu um giro completo em torno do Sol. Não tenho elementos – nem me interessa tê-los – para confirmar ou contestar os entendidos nessas coisas. Dou de barato que estejam certos e não me sentirei frustrado se estiverem errados.


Pelo que andei lendo, tudo é móvel no Universo, não apenas a Terra, mas o Sol e todas as estrelas. Sendo assim, qual o ponto de referência para acreditar que o nosso planeta está no mesmo lugar quando a folhinha humana – brinde que recebi de uma mercearia do Leblon – anuncia um novo ano?


Lembro o que aconteceu com amigo meu ao qual emprestei uma lancha para que ele desse algumas voltas pela baía de Guanabara. Ensinei-lhe o básico em navegação, pedindo que marcasse um ponto como referência, uma casa, um acidente topográfico do litoral.


O desgraçado tomou como referencial do lugar de onde saíra, e aonde deveria voltar, uma bicicleta encostada numa parede. Duas horas depois, estava perdido, procurando em Paquetá a bicicleta que ele vira na Ilha do Governador.


Não sei se a analogia procede, mas não vou muito nessa história de a Terra estar hoje no mesmo espaço que ocupava no ano passado. Há também uma teoria segundo a qual nunca vemos os mesmos rios. Eles estão sempre passando, a água que neles corre não é a mesma de ontem nem de cinco minutos atrás. Devo estar cometendo uma heresia em matéria que não entendo e estou muito cansado para tentar entender.


Fico mesmo com a folhinha que recebi, que, além dos dias e meses do próximo ano, tem aquele belíssimo pôr do sol sanguíneo e permanente que só se encontra nas folhinhas de armazém.


Folha de S. Paulo (SP) 01/01/2009

Folha de S. Paulo (SP), 01/01/2009