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A favorita do sultão

 

Neste início de século e milênio, a mulher pode fazer um balanço de suas conquistas. Escrava submissa do lar, objeto indefeso diante dos apetites machistas, cidadã de segunda classe e serviçal de primeira necessidade, tudo isso ainda não acabou, mas está acabando cada vez mais depressa. A mulher lutou e conseguiu o direito ao voto, ao mercado de trabalho, ao divórcio, à pílula. Ganhou todas. Não funciona mais como a favorita do sultão -o homem.

Mas continuou tendo problemas. Por exemplo: não superou seu histórico, seu ancestral medo de baratas. Tenho amigas que se declaram fartas de seus maridos, mas na hora de o mandarem embora (ou irem elas embora) pensam no problema: sozinha nesta casa, quem vai matar as baratas quando elas surgirem?

A mulher moderna enfrenta tudo, não receia nada. Mas nem se sabe por que, diante de uma barata, ela só tem duas reações: primeiro, subir na cadeira ou na mesa; depois, pedir socorro.

Bem, a indústria já lançou o spray de matar baratas. A mulher não mais precisa da vassoura nem do chinelo para matá-las. Pode fazer isso à distância. Com isso, ela subiu mais um degrau na comprida escada de sua emancipação total. Sem barata, ela pode ser mais livre e feliz. E mandar o marido embora, se for o caso.

Pois entre o marido e a barata há que estabelecer a equação custo-benefício. Houve tempo em que as feministas pregavam a abstinência sexual, proibiam o orgasmo das mulheres enquanto durasse a ditadura de Pinochet no Chile. Pinochet passou, mas as baratas ficaram. E, com elas, os maridos.

As mulheres estão em alta. Não sei se dona Dilma usa vassoura ou chinelo, mas se livrou de um marido. Falta saber se será capaz de livrar-se das baratas que a ameaçam na Granja do Torto.

Jornal do Commercio (RJ), 14/12/2010