O mais complicado é arranjar uma lona de boa qualidade que cubra os 8.514.876,599 de quilômetros do território nacional. Uma lona que custa os olhos da cara, mas que alegislação permite que seja rateada por uma vaquinha presidida pelo tribunal competente e por doações de patrióticas empresas e instituições, além, é claro, de todos os candidatos e eleitores que de alguma forma gastam em propaganda e deslocamentos por terra, mar e ar.
O espetáculo é ecumênico, no qual participam todas as ideologias, inclusive daqueles que não têm qualquer ideologia. Há números emocionantes de equilibristas e trapezistas, não faltando nem mesmo um palhaço profissional que adotou o nome de uma gramínea muito abundante no país. Nada mais patético do que um circo sem palhaço e de um palhaço sem circo.
Na realidade, o interesse pelo espetáculo, que emociona o público sempre respeitável de todos os circos do mundo, fica por conta do casal protagonista, em torno do qual giram todos os coadjuvantes e figurantes, incluindo alguns observadores estrangeiros que se dedicam a observar a trama principal e as tramas secundárias do espetáculo.
Há participações especiais como a do Papa gloriosamente reinante, que advertiu candidatos e eleitores em geral sobre determinados pontos do roteiro original, que incluía o aborto, o casamento de homossexuais e o uso de camisinhas – um artefato de borracha que impede gestações indesejadas e vergonhosas moléstias.
Além do papa, há a participação entusiástica e também especial de cientistas políticos, economistas, pesquisadores de opinião pública, ambientalistas, marqueteiros e mídia em geral. De quatro em quatro anos tudo é remontado porque o show tem de continuar.