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A igreja e o mundo

 

Não houve surpresa, mas não houve alegria, com a eleição de Joseph Ratzinger para substituir João Paulo 2º. Falando em termos profanos, meramente políticos, ao cardeal alemão foram creditadas todas as restrições que marcaram o pontificado mais carismático da história.

Na realidade, Ratzinger já era mais do que uma eminência parda de Wojtyla, mas um vice-papa, cuja influência cresceu sobretudo nos últimos anos de João Paulo 2º. Nesse particular, sua eleição poderia lembrar a de Eugenio Pacelli, em 1939, para suceder a Pio 11. Desde a rapidez com que os dois foram eleitos como no escancarado favoritismo entre os cardeais daquele tempo.


Pacelli havia sido a eminência parda do papa a que sucedeu. Nada se fazia na igreja sem a sua anuência. Era conservador até a medula, intelectual, aristocrático. Não havia, então, os desafios e a crise que hoje se abatem sobre a igreja, mas o mundo estava no limiar da Segunda Guerra Mundial, na qual teria uma participação polêmica.


Também como Ratzinger, era o cardeal mais conhecido mundialmente entre os cardeais daquela época. E aí vem a consideração que julgo importante. Com erros ou acertos, Pacelli não deixou a igreja naufragar, manteve com mão-de-ferro a tradição, o dogma e a moral que herdara de seus antecessores.


Enfim, cumpriu a sua principal missão. Para o mundo, continua até hoje um papa discutido. Alguns chegam a amaldiçoá-lo, mas, para a igreja, ele foi não o homem certo para a hora certa, mas o homem adequado com tudo de bom e de ruim que isso possa significar.


Bento 16 está longe do carisma de seu antecessor. É transparente, sabe-se o que pensa e o que julga melhor para a igreja e para o mundo. Não foi escolhido pelo mundo, mas pela e para a igreja. Fatalmente desagradará o mundo. Ele será o primeiro a perceber isso. Mas foi esse o caminho que o primeiro papa do século 21 escolheu e que o marcará na história da igreja e do mundo.


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 21/04/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 21/04/2005