Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Lula não é ladrão

Lula não é ladrão

 

No programa "Liberdade de Expressão", da CBN, perguntaram-me se eu não ficara surpreendido ou chocado com o carro que deram a um tal de Silvio, funcionário do PT. Um presente na base dos R$70 mil. Informaram-me que a nação ficou estarrecida com a generosidade da empresa e com o mérito do funcionário petista, que fez por onde ganhar tal e tamanho reconhecimento. Respondi que não. Era um problema interno da empresa e do funcionário. Dá e recebe quem quer e pode. Eu nunca ouvira falar nesse tal Silvio, como nunca ouvira falar em Delúbio, Valério "et caterva".


Por mim, o funcionário do PT poderia ter ganho um Rolls-Royce, uma Ferrari Testarossa, mundos e fundos. A empresa não deu nada a ele. Deu ao esquema de poder do atual governo. Ao darem um carro a funcionários petistas, "mensalões" aos deputados, empréstimos que nunca serão pagos, os doadores estavam dando tudo e mais alguma coisa ao poder, que no momento está ocupado por um sujeito de quem gosto pessoalmente, um tal de Luiz Inácio Lula da Silva.


No limite, ele é o destinatário final de todos os presentes, retiradas mensais, créditos e outras facilidades que estão rolando pelas comissões de inquérito. Lula pode não ter tido conhecimento físico das doações -o benefício da dúvida é regra para esses casos. Mas as campanhas do seu partido, que eram pobres, esquálidas e, depois que se tornou presidente da República, tornaram-se ricas, suntuosas, deviam alertá-lo. Evidente que não eram financiadas diretamente pelo dinheiro público. Lula não é ladrão.


O dinheiro para tais e tantas festanças, para a melhoria substancial do patrimônio de funcionários petistas vinha de empreiteiras e empresas interessadas, essas sim, no dinheiro público. Dependiam, em última instância, da iniciativa, concordância ou aprovação presidencial.


Ninguém deu nada aos Silvios, Delúbios e Valérios. Deram ao poder, ao governo, a Lula.




Folha de São Paulo (São Paulo) 25/07/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 25/07/2005