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O doutor mandou

 

Lutando contra o tempo, Lula está procurando fazer alguma coisa que reverta a embrulhada em que se meteu. Mau conselheiro, auxiliado por conselheiros piores do que ele, veio agora com essa inacreditável MP do Bem -por extenso: Medida Provisória do Bem. Do jeito que está sendo implementada, reduz as MPs anteriores, das quais tanto e tamanhamente abusou, a "Medidas Provisórias do Mal", o que parece mais próximo da verdade.


Ao iniciar o último ano de seu primeiro mandato -que espero seja o último-, repete aquele doutor do Bafo da Onça, bloco carnavalesco aqui do Rio: "O doutor mandou todo mundo sambar". Leio nos jornais de ontem: "Lula mandou todo mundo gastar".


Ano eleitoral pela frente, problemas internos dentro de sua própria equipe, com ministros querendo gastar e um deles querendo poupar para "honrar compromissos da dívida externa", até que a ordem do doutor veio tarde e, além de tardia, parece ser inútil. Tirante algumas verbas pontuais, que têm destinação precisa e imediata, grande parte delas são destinadas a obras e a investimentos de longo prazo, deveriam ter sido liberadas no início do seu mandado para garantir um mínimo de continuidade.


O que há de obra iniciada em fim de mandato não é mole. A maior parte, creio mesmo que a totalidade, espalha ruínas, esqueletos pelo país afora. Passada a urgência eleitoral que lançou a pedra fundamental e a grita da mídia louvando o empreendimento, a contenção de verbas, novos estudos e programas não apenas paralisam a obra mas cancelam a prioridade em si, o projeto todo.


Lembrando mais uma vez o Bafo da Onça, ao tomar posse, o doutor mandou que ninguém tivesse fome, criou um espalhafatoso Fome Zero. Não foi obedecido, o que contraria não apenas a tradição de um bloco de Carnaval mas a credibilidade de um governo inteiro.




Folha de São Paulo (São Paulo) 23/11/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 23/11/2005