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O homem chamado Karol

 

Perde o mundo o seu personagem mais importante em termos de mídia e, paradoxalmente, o mais colorido, apesar de sua condição histórica de ícone branco do Ocidente. Não vem ao caso discutir a sua atuação como líder de um bilhão de crentes, tampouco seu ideário e sua pregação política e social. São, desde já, e serão por muito tempo ainda, uma questão para a história se preocupar, de qualquer forma definindo-o como um dos grandes vultos do século 20 e começo do atual século.


No momento, o que importa registrar é o impacto de sua presença em nosso tempo, não apenas no largo período de sua exposição mundial, maior e mais profunda do que a de qualquer político ou pop star.


Para isso contribuíram não apenas a força e a pertinácia de sua pregação religiosa mas a surpreendente e até certo ponto dolorosa transformação de sua imagem. A do operário polonês Karol Wojtyla em papa João Paulo 2º.


Quando apareceu pela primeira vez na sacada da basílica de São Pedro, deu a impressão de ser um imenso, um poderoso jogador de rúgbi, afogado por equívoco nas vestes de pontífice recém-eleito, falando um italiano duvidoso, pedindo que o corrigissem toda vez que cometesse um erro de comunicação.


Foi chamado pela imprensa do mundo inteiro de "atleta de Deus". E tivemos conhecimento de seu passado, de sua vocação tardia, de suas experiências de ator e de autor teatral, de sua vivência de "scholar" e de sua voz grave e até mesmo majestosa, cantando e gravando músicas folclóricas e religiosas. Nos últimos anos, o atleta se apresentava como o ancião combalido, obstinado em continuar homem, homem de Deus e papa.


Conservador que herdou e defendeu uma tradição e uma doutrina de 2.000 anos, Karol Wojtyla abriu e fechou uma página que o credencia a ser um dos maiores papas da história e um nome, mas sobretudo um vulto branco que tão cedo não desaparecerá das retinas de todos nós.


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 04/04/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 04/04/2005