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O leopardo

 

Não é do meu gosto nem de minha obrigação comentar intenções de quem quer que seja, sobretudo de chefes de estado – com exceção parcial do nosso presidente, uma vez que tudo o que ele diz ou insinua pode se transformar numa esperança ou numa catástrofe.


Nas entressafras do último carnaval, entre o desfile das escolas de samba e dos bailes gays, que são coisas nossas, muito nossas, tomei conhecimento do primeiro discurso do Obama no Congresso dos Estados Unidos. Foi aquilo que se pode chamar de ‘sucesso de público’. Aplaudido de pé por democratas e republicanos com seus anexos e respectivos quintais.


Passado o entusiasmo inicial despertado pela sua oratória de bacharelando em dia de formatura, a imprensa descobriu a obviedade de todas as propostas ameaçadas pelo jovem presidente, na base do “não devemos pisar na grama nem cuspir no chão”. Não pingou uma única idéia original de governo, limitando-se a dizer que vai fazer isso e aquilo, chegando ao exagero de prometer uma solução para a crise econômica na base de “medidas graduais e seguras”.


Faltou acrescentar o “lentas”. Teríamos assim uma repetição de certo general sul-americano que prometeu uma abertura do regime militar de forma lenta, gradual e segura. Apesar das boas intenções reveladas pelo novo presidente, as bolsas despencaram e os editoriais da imprensa reclamaram da falta de precisão e objetividade das propostas apresentadas.


Bem, poderão argumentar os admiradores de Obama, foi o discurso de um bom candidato e não de um executivo atolado de problemas. Expressou a boa vontade que dele se espera, dando razão àquela máxima expressa pelo autor de “O leopardo”: é necessário mudar de vez em quando para que tudo continue como sempre.


Folha de S. Paulo (SP) 01/03/2009

Folha de S. Paulo (SP), 01/03/2009