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Opinião: Um segredo energético

 

Uma vez o comandante Maranhão, pioneiro na exploração do táxi-aéreo, inventor e iluminado, procurou-me para dizer que descobrira um novo combustível que ia desbancar o petróleo. Queria registrar a patente, receoso que fosse roubada. Procurei dele uma pista qualquer para entender o seu delírio. Ele pedia garantia total de sigilo, que eu não falasse a ninguém. Só entregaria os detalhes ao presidente da República. Seu invento ia revolucionar o mundo. Ele gozava do prestígio ser o único piloto que sabia cair: três vezes sem vítimas e em segurança!


Voava os Cessnas 170, um monomotor de asa alta, de baixa velocidade, que consertava com arame. Num desses, na campanha presidencial de 1960, Jânio recusou-se a voar: "Sarney, você quer um candidato morto ou um presidente vivo?". Estranhei sua reação. Fiquei agastado: "É esse o que temos, voa comigo e meus filhos". Ficamos amuados, até que ele me disse, com voz carinhosa: "Sarney, meu bem, isto se chama prudência. Prudência! Prudência! Prudência!".


A descoberta do Comandante Maranhão morreu com ele. Depois circulou que sua matéria-prima era a lama que circundava os manguezais! Nunca quis confiar sua descoberta a ninguém e nela ninguém acreditava.


Conto essa pequena história para dizer que estou desconfiado que o Brasil tem um segredo bem guardado de alguma fonte de energia que ninguém sabe qual é.


Todo tempo vivemos a ameaça de apagão, que não podemos crescer mais de 3% por falta de energia e isso não abala ninguém. Ao contrário, recrudescem os movimentos que recusam a construção de hidrelétricas. Elas criam danos irreparáveis à natureza. A energia nuclear, também não aceitamos. Angra 3 aí está com um prejuízo monumental, a exigir, só para manutenção do material já comprado, milhões de dólares. Os gasodutos e os pedidos de pesquisa para nossos campos de petróleo não tramitam, como ocorre na Bacia do Maranhão, porque abstratamente podem prejudicar o peixe-boi.


Contraditoriamente, o mais fácil no Brasil é conseguir licença para termoelétricas, à base de óleo combustível, estas sim, que com os automóveis movidos a hidrocarbonetos, são as mais poluentes e responsáveis pelo efeito estufa, que amedronta o mundo com o aquecimento global.


Mas já que não queremos energia hidráulica, nem nuclear, e estamos de acordo sobre a recusa de ampliar o consumo de combustíveis fósseis, o Brasil deve ter uma outra fonte secreta de energia, de uma origem que ninguém sabe.


A solução é ressuscitar o Comandante Maranhão para trazer o seu segredo.


Jornal do Brasil (RJ) 19/1/2007