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A solidão de Lula

 

Os analistas políticos de diversos calibres chegaram a um consenso: Lula está só. Em três anos, perdeu e se afastou de seus amigos e companheiros históricos. Está agora cercado de gente que mal conhece, como mais da metade de seus atuais auxiliares de primeiro escalão.


Sem entrar no julgamento de valor de cada um deles, Lula perdeu ou foi obrigado a perder a constelação sindical que deu força e luz ao partido que fundou. Um guerrilheiro como Zé Genoino, um homem marcado por lutas como Zé Dirceu, conselheiros como Frei Betto e Kotscho, um time com passado e que ficou passado e aparentemente sem futuro.


Os mesmo analistas, ao proclamarem a solidão de Lula, passam a duvidar de suas possibilidades de ser reeleito. Politicamente estariam certos: nunca um presidente ficou tão isolado das tricas e futricas que alimentam a vida pública - o Congresso, os partidos e até os meios de comunicação e o empresariado que o apoiaram de forma entusiasta até pouco tempo atrás.


Minha impressão, mais uma vez, diverge da maioria. Lula nem está aí para essa solidão política e administrativa. Ele despreza tanto a política como a administração. Gosta de outra coisa, de povo em volta dele, das liturgias do poder, de andar na carruagem ao lado da rainha da Inglaterra, de beijar e ser beijado pela gente humilde que pouco está ligando para a sua cara-de-pau, para suas barbeiragens com a classe política.


A solidão de Lula, paradoxalmente, alimenta a sua penetração no coração e na mente daqueles que, por outros motivos que não os de Lula, desprezam os políticos, os partidos, a presença do Estado -quando há Estado presente.


No Norte-Nordeste, a sua taxa de popularidade é de 60% - e é de apenas 10% para seu adversário. No restante do país, os números serão diferentes, mas a maioria do eleitorado não quer saber de política, quer saber de Lula, que sabe falar o que ela quer ouvir, seja ou não verdade.


 


Folha de S. Paulo (São Paulo) 06/04/2006

Folha de S. Paulo (São Paulo), 06/04/2006