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Artigos

  • Seria uma pena

    RIO DE JANEIRO - Se dependesse de mim, Lula teria sofrido um impeachment no final de seu primeiro mandato, por conta dos escândalos do mensalão. Impossível que ele não soubesse e não tolerasse a corrupção que se instalou à sua volta, ceifando inclusive o seu auxiliar mais próximo e importante.

  • A gestante

    Gestantes, idosos e deficientes físicos têm prioridade nas filas dos bancos. Nem todos os idosos precisam provar o ano de nascimento com a carteira de identidade. Está na cara que são idosos mesmo. Os deficientes também escapam da prova - infelizmente são óbvios.

  • Decoro parlamentar

    RIO DE JANEIRO - Na primeira legislatura após a queda do Estado Novo, um deputado federal foi cassado por seus pares por quebra do decoro parlamentar. Ele não recebia mensalão, não respondia a nenhuma CPI, mas foi julgado incompatível com a austeridade que se cobrava de um representante do povo, depois de anos da ditadura Vargas.

  • Napoleão e Lula

    RIO DE JANEIRO - Pode ser lenda, mas vários de seus biógrafos adotaram a cena e a frase como verdadeiras. Numa de suas batalhas -alguns autores dizem que foi em Arcole, outros em Lodi-, Napoleão tomou a frente de sua tropa e enfrentou a chuva de balas que matavam seus soldados à direita e à esquerda. Um deles advertiu o general para o perigo, Napoleão respondeu: "Ainda não foi fundida a bala que me matará".

  • Maura Lopes Cançado

    Lia pouco, observava muito; sua frase era simples, não erudita, mas de uma precisão cruel Sinceramente, não fiquei surpreendido. Em 2003, quando fazia uma série de palestras na Sorbonne (Nantes, Lyon, Rennes e Paris), um jovem professor pediu-me para falar sobre Maura Lopes Cançado, cujo livro "O Hospício É Deus" estava estudando para uma tese de doutorado na própria Sorbonne. Ele sentia dificuldade em encontrar material crítico e biográfico sobre a autora, sabia vagamente que eu fora seu amigo -estava citado no livro- e guardara uma crônica que eu publicara na Ilustrada há tempos, falando de Maura e um pouco de sua personalidade humana e literária. Passa o tempo e recebo, no último sábado, a visita de uma aluna que a escolheu como tema de sua tese de mestrado na PUC-Rio. Forçando a memória, lembro que, no passado, estudantes de faculdades espalhadas pelo Brasil já me haviam escrito pedindo informações sobre Maura, que também tem outro livro publicado ("O Sofredor do Ver") e uma série de contos no "Suplemento Dominical" do "Jornal do Brasil", no final dos anos 50. É um fato mais ou menos comum em todas as literaturas: escritores de talento, alguns beirando a genialidade, passam desapercebidos por seus contemporâneos e somente aos poucos vão conquistando espaço entre os estudiosos fatigados de analisar as obras já exaustivamente analisadas pela massa crítica que se forma nas academias, nas editoras e na mídia. Temos alguns exemplos entre nós -e o de Maura me parece o mais recente e emblemático. Morreu há pouco, esquecida e conformada, aparentemente curada da loucura que a levou a diversas internações em hospícios e clínicas psiquiátricas. Não mais escrevia, não procurava ninguém e por ninguém era procurada, a não ser por seu filho, Cesarion Praxedes, que morreu dois anos atrás. Naqueles anos, eu também colaborava no "SDJB" e freqüentava o andar ocupado pelo suplemento, cuja fauna está toda citada nos livros de Maura: Reynaldo Jardim, Ferreira Gullar, Assis Brasil, Mário Faustino, José Guilherme Merquior, Carlos Fernando Fortes Almeida, José Louzeiro, Alaôr Barbosa, Walmir Ayala, Barreto Borges, Oliveira Bastos e outros que agora não lembro. Reynaldo Jardim foi o criador e era o editor do "SDJB", recebeu um conto de Maura e ficou entusiasmado, publicou-o na primeira página, na diagramação competente de Amílcar de Castro. Foi o início de uma série de contos magistrais; falou-se em Katherine Mansfield, em Mary McCarthy e, principalmente, em Clarice Lispector, que parecia a influência mais próxima da desconhecida contista. Estava longe de ser uma imitadora. Seu universo era mais denso e concentrado naquilo que, mais tarde, ficamos sabendo ser a sua loucura. Eu havia estreado na literatura em 1958, e Maura me procurou, dizendo que desejava escrever um romance. Tirei o corpo fora, não se ensina ninguém a escrever um romance, um ensaio, uma poesia. Ajudei-a apenas materialmente, dando-lhe uma máquina de escrever. O resultado foi "O Hospício É Deus". Não se trata de um desabafo. Mas de um mergulho complicado no seu universo interior, quando a matéria da carne se decompõe antes da morte, e sobra apenas a convulsão, "a noite escura da alma" (Maura nunca leu São João da Cruz). Convulsão que ela experimentou fisicamente na série de eletrochoques, nos acessos de cólera contra o mundo e contra a humanidade. Em duas de suas crises mais violentas, matou uma enfermeira e um namorado, cumpriu pena em presídios psiquiátricos, foi libera- da por parecer de médicos que a examinaram e por juízes que absolveram. Era doce quando superava a loucura, amante, querendo aprender tudo para melhor desprezar o mundo e a humanidade. A literatura poderia ser o seu refúgio, se Maura acreditasse nela mesma e na própria literatura. Lia pouco, observava muito; sua frase era simples, não erudita, mas de uma precisão cruel. Não era feia, mas se julgava belíssima. Adolescente em Minas, ganhou um avião de seu pai, pilotava bem, batizou o aparelho com o nome de seu filho, Cesarion. Um acidente cortou a sua carreira -aliás, ela nunca pensou numa carreira, queria apenas ser ela mesma, com as suas manias, o seu sofrimento de ver o mundo e as coisas, a sua loucura, o seu deus.

  • Renan está sangrando

    RIO DE JANEIRO - Não se trata de um juízo pessoal e definitivo sobre o caso do presidente do Senado. Ele deu explicações abundantes, seus pares aceitaram suas provas e tudo parecia indicar um desfecho honroso que livraria a barra e a cara do parlamentar alagoano.

  • Renan e Mangabeira

    RIO DE JANEIRO - "O Senado está tranqüilo, trabalhando normalmente, e é isso o que o povo quer". A declaração foi feita na manhã de ontem, na CBN, pelo ainda presidente daquela casa do Congresso, Renan Calheiros. Acredito que ele esteja mal informado. Há mais de duas semanas que os senadores estão engolfados num dos processos mais complicados de sua história.

  • “Onde está o presidente?”

    Num desses telejornais, vi o desabafo de um cidadão que não obedeceu ao conselho da ministra do Turismo para relaxar. Tomou o microfone da jornalista e gritou: “Onde está o presidente? Há algum presidente neste país?”.

  • UTI da palavra

    RIO DE JANEIRO - Desde criança estranho qualquer tipo de sigla. Sei que são necessárias e práticas, reduzem qualquer conceito ou fato a poucas letras. Lá atrás, em respeito ao nome de Deus, os judeus criaram a primeira sigla, que foi Javé, uma combinação cabalística de conceitos cuja soma se refere a Adonai, o Senhor.

  • Outros tempos

    RIO DE JANEIRO - "Não resta a menor dúvida de que o Brasil..." -as primeiras palavras saíram fáceis, mas o texto embatucou. Dono do jornal e principal editorialista, arrancou a lauda da máquina de escrever, amassou-a e jogou-a na cesta. Suspirou, botou nova folha na velha Remington que herdara do pai junto com o jornal, a rotativa e um sítio em Campo Grande onde criava galinhas.

  • Louvação do caipira

    RIO DE JANEIRO - Gostei, mas gostei mesmo, da foto em que Lula aparece em "look" caipira, puxando o cordão na festa junina da Granja do Torto, segurando o estandarte com as imagens de são Pedro e santo Antônio. Ao contrário de outras autoridades, ele fica perfeito com as calças remendadas, o chapéu de palha, a cara esbaforida. É o homem comum brasileiro, o mesmo que se identifica com ele e o aprova no governo, apesar de sua progressiva omissão nas questões mais urgentes da vida nacional.

  • A ameaça das águas

    RIO DE JANEIRO - Leio nos jornais que Macaé, norte do Estado do Rio, está afundando. É coisa pouca ainda, alguns centímetros por século, mas de forma inapelável. Nada a ver, por ora, com a elevação do nível dos oceanos devida às calotas polares derretidas pelo calor do meio ambiente poluído. É a cidade que afunda por conta própria, mais ou menos como Veneza.