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Artigos

  • Vidros e Vidraças

    Em um de seus filmes mais populares, Carlitos é vidraceiro e adota um menino de rua. Saem os dois para trabalhar, o garoto quebra o vidro de uma janela e foge, Carlitos aparece como por acaso, o dono da casa o chama, combinam o serviço, e o dia está ganho. Na hora do almoço, tanto o vidraceiro como o seu ajudante têm o que comer.

  • Cony de corpo inteiro

    Ele insiste em não querer se apresentar por completo aos seus leitores. Uma forma dissimulada de modéstia ou de fazer aquilo que no esporte se chama "esconder o jogo". Assim é o escritor e acadêmico Carlos Heitor Cony, de quem somos amigos há mais de 30 anos. Primeiro escreveu o seu antológico "Quase memória". Não contou tudo, mas deixou claro o afeto pelo pai, jornalista da velha guarda, além do apreço pelos balões hoje proibidos.

  • Bienais

    Sou um profissional do livro, tanto na mão como na contramão, na voz ativa e na passiva. Acho que passei a maior parte do meu tempo lendo ou escrevendo, e confesso que, embora não me justifique, o contato com o livro tem sido o melhor da minha vida – ao lado de outros prazeres, poucos e não bastantes.

  • Onde estão todos eles?

    Uma das gripes que andam por aí, evoluída para uma pneumonia que me manteve fora de combate por mais de um mês, foi um refresco que dei aos possíveis leitores que cultivam o deplorável hábito de ler o cronista. Daí que a última Copa do Mundo não teve qualquer comentário de minha parte - o que constitui mais um triunfo para as cores daquele país.

  • A primeira pedra

    A questão não chega a ser política, mas religiosa, embora tudo na vida tenha seu lado político ou religioso. No século 21, é espantoso que um fundamentalismo desse tipo ainda seja exercido em nível estrutural de uma sociedade. Contudo, não se pode acrescentar o episódio ao saco de maldades do atual presidente iraniano, que se destaca como vilão da vez no panorama mundial. Matar a mulher que comete adultério fazia parte da moral judaica muito antes de haver Irã e outros países islâmicos. Moisés antecedeu de alguns séculos o profeta Maomé. Temos o conhecido episódio do Cristo com a adúltera. Os judeus levaram-lhe uma mulher que traíra o marido e quiseram saber se deviam apedrejá-la, como mandava a lei naquele tempo. A resposta ficou na história e entrou na linguagem comum do homem comum: “Quem nunca pecou atire a primeira pedra.” Um samba gravado por Orlando Silva fez parte de antigo carnaval e repete a mesma sentença.

  • Quem é quem

    Durante a campanha, os candidatos à Presidência bem que podiam aproveitar o tempo de exposição de que dispõem, sobretudo na televisão, para falar sobre a própria vida pessoal, as dificuldades que tiveram nas carreiras, na família, nos estudos, nos cargos que já exerceram, as soluções que encontraram, as vitórias e derrotas da complicada luta do viver.

  • Sinfonia macabra

    Manhã do último sábado. Um grupo de traficantes da favela da Rocinha voltava de uma festa na favela do Vidigal. Os dois morros não chegam a ser rivais, mas espremem um dos bairros nobres da zona sul da cidade. Tampouco são dos mais ferozes.

  • Visita à casa dos fantasmas

    Aproveitando a tarde chuvosa, decidi dar uma volta. Geralmente, costumo ir à praia, passear pela orla, mas caía uma garoa miúda e irritante, resolvi me embrenhar em outros bairros, distantes bairros de minha infância, que há muitos anos não visito, em parte por preguiça, em parte (ou no todo) por fastio. Peguei o carro e, sem saber o que fazer, fiz o que não devia.

  • As Guerras Púnicas

    - Há quem admire ou inveje os cronistas que dispõem de espaços na mídia, podendo escrever ou abordar assuntos fora da pauta dos editores e até mesmo das características essenciais do veículo, seja jornal, revista, rádio ou TV.Ledo e ivo engano! Trabalho nesta praia há muitos anos e até hoje não consegui emplacar um assunto de minha preferência: as Guerras Púnicas.

  • Cartão amarelo

    Na crônica anterior (“A dúvida e a dívida”), lamentei sinceramente a crise que bagunçou o coreto da Casa Civil, já bagunçada por episódios escandalosos até agora não explicados e punidos. Embora não votando nos candidatos principais à sucessão de Lula, eu achava que o eleitorado estava bem servido com Serra e Dilma, que se equivalem em méritos e em moralidade.

  • O livro dos livros

    Embora contra a vontade, respondo a um amigo que me pede uma relação de livros que eu gostaria de reler, caso dispusesse de tempo. Em minha resposta, incluiria alguns livros que realmente gostaria de reler — não por serem bons ou necessários, mas apenas por fidelidade pessoal. Estanharam que eu incluísse Michel Zevaco e Alexandre Dumas, deixando de relacionar Shakespeare, Homero ou Dante. Ora, senhores, livros há que necessariamente obrigam a que se arranje tempo e vontade para a releitura. No caso de Shakespeare, por exemplo, qualquer folga na minha rotina e eu pego o "Otelo". Por modéstia, não vou dizer aqui os livros que obrigatoriamente leio todos os anos. Posso adiantar alguns, como "Tartarin de Tarascon", "Asia", "Memórias de um Sargento de Milícias", a Constituição do Brasil e o Código Nacional de Trânsito. São leituras pias e úteis, a que me obrigo por dever e gosto, tentativas frustradas de me tomar um bom cidadão. Stendhal lia todas as semanas o Código Civil em busca de um estilo seco, despojado, perfeito.

  • A alternativa

    Não parece, mas a crônica anterior, publicada na quinta-feira, sobre as Guerras Púnicas, gerou inesperado retorno dos leitores, que se manifestaram em e-mails, todos a favor. Menos um, que preferia assunto mais recente e mais empolgante, como o caso da Receita Federal versus a filha do Zé Serra.

  • A vida e a história

    "É o final de um dos romances de Émile Zola, "A Fecundidade". Ao terminar o gigantesco projeto dos Rougon-Macquart ("História Natural e Social de uma Família sob o Segundo Império"), Zola escreveria o que chamou de seus quatro evangelhos: a fecundidade, o trabalho, a justiça e a verdade. O primeiro deles termina com o grito de uma jovem camponesa varando a tarde e o campo: "A vaca pariu um bezerro!"

  • Satã entre nós

    Diversas vezes comentei neste espaço que os recentes episódios da política nacional continuam dando motivo para a indiferença (ou o nojo) de grande parte da população.

  • Enfim, a solução

    Não lhe guardei o nome, o número e o partido. Guardei apenas a cara, uma cara subdesenvolvida. Poderia ser a de um figurante anônimo num filme do Cinema Novo. Durou poucos segundos na tela, mas houve tempo para dar o seu recado: 'Eu sou a solução!'