Hélio Jaguaribe é eleito o sucessor de Celso Furtado na cadeira 11 da ABL

Daniela Birman

O Globo, 04/03/2005 

O sociólogo Hélio Jaguaribe tornou-se ontem o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele foi o único candidato votado na eleição para a cadeira de número 11 da Casa de Machado de Assis, ocupada durante sete anos pelo economista Celso Furtado, que morreu em 20 de novembro do ano passado. O sociólogo recebeu 35 votos. Também houve duas abstenções e dois votos em branco.

Jaguaribe disse experimentar um sentimento com duas faces opostas em suceder a Celso Furtado na cadeira 11. Ele lamentou enormemente a morte do economista, por quem tinha uma grande amizade e admiração, mas afirmou que ser seu sucessor é uma grande honra:

- Eu tive com Furtado uma profunda identidade de pensamento, de projetos, de intercâmbio de idéias durante mais de meio século. Sinto que posso, embora em escala menor, dar continuidade às idéias dele.

Sociólogo de 81 anos é autor de quase 40 obras

Hélio Jaguaribe concorreu com outros três candidatos - Nelson Valente, Paulo Hirano e Marco Aurélio Lomônaco - na eleição de ontem. Nenhum de seus opositores recebeu algum voto. Aos 81 anos, o sociólogo é autor de cerca de 40 obras, metade delas de autoria individual. Entre essas, ele destaca “Um estudo crítico da História”. Ex-ministro de Ciência e Tecnologia do Governo Collor, Jaguaribe é decano emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Iepes). Ele foi professor visitante das universidades de Harvard, Stanford e do M.I.T e fundador responsável pela cadeira de ciência política do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros).

Uma das maiores preocupações do novo acadêmico é a necessidade de compatibilizar a tecnologia com o humanismo:

- O mundo moderno não sobrevive sem o apoio tecnológico. Por outro lado, sem uma vocação humanista o homem perde a sua transcendência.

Para o presidente da Academia, o poeta Ivan Junqueira, a eleição de Jaguaribe é mais uma conquista da Casa:

- Nós escolhemos um homem de pensamento, um sociólogo e um historiador da cultura que tem realmente muito o que dar à ABL. Penso que toda a Casa se sente profundamente orgulhosa de tê-lo aqui.

A previsão é que o novo acadêmico tome posse em julho.