Não sei por que, mas o Dia da Pátria sempre me provocou um tédio pelas datas festivas: Natal, Ano Novo, meu aniversário, o aniversário dos outros são efemérides que enfrento com vergonhoso constrangimento.
Acho uma chatice do calendário marcar dias para se comemorar isso ou aquilo. Sobretudo, não vejo motivo nem mérito para festejar o meu nascimento –nem motivo nem mérito para festejar o resto da humanidade. Se o inferno são os outros, para os outros eu sou o inferno –e concordo com este juízo a meu respeito. Mas nada posso fazer e o remédio é me sujeitar com ditos eventos, o da Pátria, inclusive.
Já passei um Sete de Setembro trancafiado nas grades, por delitos cívicos que as autoridades da época me atribuíram. Era um período tenebroso, uma semana antes precisava engraxar botas, limpar canhões e cavalos. Houve um ano em que um coronel examinou nossas unhas para que o desfile cívico parecesse uma exposição de misses.
Dias antes, havia pelo quartel um rufar de tambores, um barulho de clarins e tiros de festim para dar a trilha sonora de uma batalha. Nem podíamos dormir em paz, pois havia um pelotão ensaiando o "Avante camaradas ao tremular do nosso pendão"!
Em vão esperava uma melhora no rancho, mas a refeição era a de todos os dias, com o acréscimo cívico da metade de um pêssego em calda. Não tive pensamentos patrióticos e sadios nos dois Sete de Setembro que passei no CPOR e um terceiro que passei atrás das grades. Por isso, talvez, a pátria nunca deu pela minha falta.
Na semana que passou, tivemos mais um Dia da Pátria. Olhado com atenção, mais pareceu um dia de Dona Dilma. Ela não cantou o "avante camaradas ao tremular do nosso pendão". Mas invocou o pendão que ela faz tremular sempre que pode ou não pode: sua casa, sua vida.